Aquilo que nos sufoca

Desde o nosso nascimento nós somos de certa forma forçados a limitar a expressão de nossas emoções, como se elas fossem algo ruim, desagradável, que demonstram fraqueza e fragilidade. Talvez as emoções que mais sejamos instruídos a reprimir sejam aquelas ligadas à tristeza, ao medo, à raiva. O problema é que essa repressão toda, essa tentativa de enterrar as emoções dentro de nós mesmos, pode nos sufocar e causar a nossa lenta e trágica morte. Clarice Lispector falou sobre isso: “Perdi muito tempo até aprender que não se guarda as palavras, ou você as fala, as escreve, ou elas te sufocam”.

O interessante é que não apenas as emoções desagradáveis, uma vez reprimidas, podem nos sufocar, mesmo emoções como amor e fraternidade podem nos sucumbir a uma dor lancinante quando não são expressas de alguma maneira. Quantos que não passaram suas vidas amargurados, arrependidos, porque lá atrás, quando ainda eram jovens sonhadores, deixaram de declarar o seu amor para a pessoa querida? E passam os anos se lamentando, incomodando-se com o pensamento do que poderia ter sido, de como a vida poderia ter sido vivida se lá naquele tempo tivesse existido um pouquinho de coragem. É... Guardar sentimentos, esconder palavras que gostaríamos de dizer, pode nos trazer um sofrimento cuja extrema intensidade não imaginamos.

E quando não conseguimos expressar de maneira inteligente quando nos sentimos incomodados por algo, acabamos tendo que conviver com uma situação que só nos machuca, que retira de nós aquela vontade por viver, aquele desejo por fazer a história acontecer. Muitos já tiveram que suportar situações insustentáveis porque não conseguiram anunciar o tamanho da dor que sentiam. Muitos sucumbiram a esse infortúnio, vítimas de palavras não ditas. Mas o que são as palavras? Não são apenas a materialização do que pensamos e sentimos? E por que tentar esconder arduamente os nossos pensamentos e sentimentos? Não são eles fatos do ser humano? Por que nos envergonharmos daquilo que nos compõem?

Diga quando não estiver se sentindo bem, diga também quando amar alguém. Diga quando algo precisar ser transformado, diga também quando se sentir a pessoa mais feliz do mundo por estar ao lado de quem estiver. Diga quando o seu espaço estiver sendo desrespeitado, diga também quando se sentir a pessoa mais especial do mundo por ter recebido uma demonstração de carinho que há tempos almejava. Diga. Fale. Escreva. Permita que a sua essência extravase para o mundo, não a sufoque dentro de você, ela precisa de espaço para expandir e tocar alguém.

(Texto de @Amilton.Jnior)