Perdas

Há um livro feito de 'bits' em meu computador que não pode me dizer "Ei ! estou aqui, imóvel já há muito tempo!" , como seus antepassados que usavam o cheiro do mofo

nas estantes.

Hoje sobrevivem com seus concorrentes eletrônicos, monstros que tentam roubar o tempo, antes dedicado a páginas vivas com seus toques humanos, entre flores amassadas e gostas de café.

Sim devo lembrar deles, em especial os que me ensinam algo que a rotina me tenta fazer esquecer , o valor do tempo investido para virar cada página, a paciência que me requer para encontrar o capítulo que o marcador perdeu. Sempre algo a me trazer, úteis para a vida, uma vida agora um pouco mais gasta que antes, onde os contos de aventuras agora dão lugar a crônicas , poesias, reflexões e coisas que fazem me entender melhor das ilusões desconstruídas, desmistificações que vieram com tempo. Como a perda de alguém querido, que agora só vive na memória.

Coisas que sumiram sob alguma circunstância inevitável,

Todos formas de dramas e perdas que temos que aprender a lidar, pois enquanto é nosso tempo, o rio da vida não para , mas suas águas continuam a passar num fluxo contínuo , com seus trechos de correntes agitadas, passagens calmas e límpidas, que em um momento chega se ao mar, quando então se torna parte algo maior.

Por isso dou uma atenção especial a elas, as perdas. Antes temerosas ameaçadoras, agora, apenas professoras um tanto sádicas, como as das antigas escolas que davam reguadas nas mãos das criancinhas ,

e com essa visão cresço observando o que a dor faz de mim mesmo, um aluno mais atendo. Especialmente porque elas nos desfazem da ilusão que criamos da felicidade plena e contínua que fomos ensinados a buscar. E descobrir além de tudo que a paz interior é uma condição meio que paralela a elas.

Em todo caso , as perdas tendem a ser dramáticas porque tendem a sugerir que coisas boas tem data de vencimento. E apesar

disso não podemos simplesmente jogá-as no esquecimento, e deixar de ter esse olhar especial para o que já foi bom.

Fernando pessoa sabia disso:

"Eu amo tudo o que foi

Tudo o que já não é

A dor que já me não dói

A antiga e errônea fé

O ontem que a dor deixou,

O que deixou alegria

Só porque foi , e voou

E hoje é já outro dia"

A ciência diz . que a dor e o prazer acontecem no cérebro. Se isto é verdade, o que deveríamos fazer com o vazio que nada

que seja feito para o conforto do corpo consegue ocupar?

Talvez a resposta encontremos lá, neste espaço entre linhas escritas ou lidas, onde nos identificamos e nos apoiamos.

E aceitar que finalmente as coisas "não são eternas posto que chamas"(como disse Vinicius), mas que de alguma forma são "infinitas". Aceitar que há algumas há situações boas que não são duráveis na vida, dentre outras coisas, exigem de nós , a capacidade de lidar com nossos sentimentos que trazem as perdas, e as consequências por mais que não muito primorosas, nos deixam seguir em frente, sem ferir os outros ou a nós mesmos. Em outras palavras,

não deixamos dessa forma que as dores se tornem quem somos.

afinal de contas "...hoje é já outro dia ".

Tesla da escrita
Enviado por Tesla da escrita em 18/11/2021
Reeditado em 18/11/2021
Código do texto: T7388486
Classificação de conteúdo: seguro