O Lixo da Vida

 

Vidas...

Onde abrigamos tantas coisas, um monte de nada...

Pessoas que conhecemos, tantas por vir, inúmeras que se farão inexistente ou imperceptíveis.

 

Algumas destas passam com tamanha pressa, que mal enxergam o que deixaram para trás; outras, tão vagarosas que nunca conquistam, deixando a oportunidade passar. A margem desta tão maravilhosa sociedade estão os que estagnaram suas vidas. Não correm, não rastejam. Não estão parado por terem que se deslocar de um lado para o outro.

 

Estes escolhem lugares incomuns para pousar, como esta senhora, bem acomodada em meio ao lixo, revirando as casas que ali depositam, restos de sobrevivência, ofertando um banquete para quem não tem o direito de se queixar: "Estou com fome.", frase que dizemos sem ao menos ter visto a face ou conhecê-la pessoalmente.

 

A cultura da vida se resume em nos queixarmos de tudo, de todos, pelo simples ego, que, não está saciado neste ou naquele momento. A nossa solidariedade não se faz sem troféus, podendo ser, apenas, uma foto nas redes sociais. Quando em casa, nem se quer estendemos a mão pro irmão, avós até mesmo um pai e mãe (quando de fato estes merecem).

 

Aqueles que vivem e fazem atos que agradam a si mesmos, anonimamente, sim, estes mesmos, fazem por que eles não fazem para o outro, apenas para sentir que fizeram diferença no mundo caótico, de paisagens exuberantes, em que as pessoas estão sempre em busca de um quadro novo.

 

Aquela senhora, à beira do canteiro, em meio ao lixo, reflete bem o verdadeiro valor desta pintura; onde somos como ela, sozinhos, sujos, esquecidos por tantos ao nosso redor, mas, que, incansavelmente, diferente dela, suplicamos por um olhar por mais que seja de pena... Mais um olhar. Catamos tantas coisas em meio ao lixo das futilidades, disputando com outros mendigos e pedintes quem catou mais da vida; carros, salários, moradias. Ainda não satisfeito com que temos, gostamos de fazer comparações com quem tem menos. Uma palavra que eu tanto ouço no meu meio: "Não estou desfazendo do seu, mais poderia ser assim...." destruindo, com prazer mórbido o prazer do outro.

 

Eu tenho uma irmã que comprou um carro. Quando mostrou ao outro irmão, ele, de alguma forna, se sentiu ofendido, enquanto eu apenas a congratulei pela conquista. Enfim, isso faz a diferença para a pessoa, que, se esforçou tanto ou nada para pegar um pouco mais do lixo vida.

 

Eu me pergunto se realmente somos felizes, dado que estamos sempre buscando suprir um buraco, em busca de algo mais valioso. Já aquela senhora, ela realmente sabe o real valor deste sentimento. Enquanto nós a intitulamos... Louca.

 

Texto: O Lixo da Vida

Autor: Osvaldo Rocha

Data: 10/09/2021

Osvaldo Rocha Jr
Enviado por Osvaldo Rocha Jr em 15/11/2021
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