as coisas

trago-te uma novidade que talvez seja antiquada.

que te faça rir. graça pálida, obstruída.

trago-te não o pedido de namoro pelo namoro,

compromisso firmado na liquidez,

mas o frio na barriga, o palpitar do coração.

não o sexo self-service, mas a solidificação do amor nas preliminares,

a expectativa, os olhos procurando o caminho,

o afeto e mais, trago-te o que é fé de fato:

o chão íngreme, a solidez das pedras, a gravidade, isto é riquíssimo.

trago-te no lugar da espera, a vontade como um abre-caminhos,

o perímetro de seus braços, a força de suas mãos,

o querer da alma, esse incansável acreditar.

de onde venho te trouxe bagagens com coisas existindo em estado de latência.

te trouxe o saber sentir o avesso de tua rua, vizinhança e cidade.

descubra que as coisas se manifestam através de ti,

ganham vida e amor em ti ou viram enfermidades e cinzas em ti.

trago-te mais coisas que já não deveriam ser segredos.

as coisas pretendem toda a dinâmica da sua mente.

se estais dormindo ou desperto, são elas o seu rebojo,

conspiram, marcam os pontos;

te envolvem e te servem exatamente como tens plantado.

trago-te não o traje de presente que te felicita, mas a ação por trás,

o início, o meio, até chegar em ti.

as coisas fazem isso, faz sua família em ti,

seu emprego, seu bicho de estimação,

a hora marcada do encontro, a euforia.

faz sua relação de amigos, seu prazer, sua dor.

todos os dias cooperam com sua humildade, com seu egoísmo;

todos os instantes que te aprimora (simpatia, leveza, pesar).

as coisas que te cercam é o que você está possibilitando.

não seja sempre doente, não vire um câncer.

de ti deve sair cor e vida, muita vida!

de onde venho te trouxe coisas que dormem nos porões trancados de seu cerne.

trago-te o momento em que sua ignorância se acomunou com seu ego.

certa vez te trancaram a sete chaves,

seus cabelos cresceram enquanto você esquecia,

você abraça a ficção quando olha apenas os concretos do mundo,

toda essa riqueza morta precisa te alienar,

mas você é um universo nos perímetros do mundo.

você se expande, ao menos precisa.

de onde venho te trouxe possibilidades que não percebes.

estais privado! servo voluntário. cão fiel de quem vos priva.

descubra seu espaço. conheça seus movimentos.

existe uma canção só sua delineando sua alma.

ouça-a corretamente com um sol sobre a fronte.

você é permanente e possível que sejas livre.

trago-te uma novidade que talvez te emancipe.

que te remova esse riso pálido, obstruído.

trago-te não o que você se denomina, se supõe,

embebido de orgulho e pressa.

trago-te você, essa Luz distinta,

que a crosta dessa pústula não poderá conter.