Elogio à insanidade
A cada dia, conviver nesta sociedade, faz-nos sentir mais indignados pelas próprias circunstâncias dessa reprodução social, moldada à dialética da mediocridade...
Estamos vivendo, ipsis litteris, o título de uma grande obra de John Kenneth Galbraith: A era da incerteza; ou quem sabe até a de Eric Hobsbawm: A era dos extremos?
A era globalizada nos parece conceber mais alienação em termos de discursos reproduzidos, que de autonomia ao saber epistêmico. Tudo isso nos faz crer que estamos vivendo uma real e constante inversão de valores, de razão e de liberdade...
A era globalizada reuniu “seres pensantes” ao anátema, acreditando que a tecnologia dará ao homem à descoberta e o sentido racional das coisas, por uma mensuração palpavelmente “incondicionada” que, na verdade, sabemos que todas essas questões estão no plano do discurso referendado ao campo da enunciação, por plataformas discursivas oportunistas sem quaisquer vínculos com a ética e a verdade, se é que possamos entrar no mérito dessas questões. Creio que não, pois, seria muita ingenuidade de minha parte entrar nessa discussão em tão pequeno espaço textual...
Hoje as coisas têm sido tratadas como se vivêssemos apenas numa dualidade de percepções, como a narrativa do céu e do inferno protagonizada pelos iluministas para fazer “alusão” ao caos do Medievo. E nem por isso estavam certos dessa “verdade” ...
Essa sociedade tem criado fatos inverídicos com suaves tons de respeito, moral, igualdade e legalidade para torná-los aptos e legítimos em seus discursos falaciosos, buscando dessa forma criar fatos políticos para a adesão de uma grande massa, não mais vista como de manobra, mas de insanos, que vagam como zumbis cheio de ópio, como se o normal fosse viver mergulhados nos entorpecentes, principalmente, os ideológicos. Hipócritas, vocês não são imortais, são escórias da verdade, do respeito e do bem social.
Nossa sociedade anda muito doente e carente de líderes, e isso não é de agora, e a cada dia, a ordem sucessiva da vitaliciedade se encontra em todos os espaços de poder, não apenas da política, mas da economia, da educação e do ensino, da comunicação, da ideologia e também o da fé.
Somos irmãos, sim! Se estivermos no mesmo espaço de pensamento, em uma via de mão única; e não rompendo de uma vez por todas com à falta de respeito e com à falta de tolerância, sem excessos de vitimados e de réus, desnaturando toda ideia de civilidade.
Essas instituições no primeiro quartel do século XX foram muito estudadas e ainda as são, e continuam dominando o mundo com o olhar peculiar de seus mais íntimos interesses. Não há novidade alguma nisso!
Mas para quê falar sobre tudo isso?
Pois, não estamos mais na era da incerteza, mas na Era da certeza de que mesmo sendo-nos muito, permanecemos sendo o NADA para eles. Ou seja, somos apenas mais um requisito para encorpar/agregar o sabor do desejo de dominar e de ser dominado. Uma concessão passiva que funciona como passaporte para mentes blindadas...
Nossas opiniões são monitoradas com os olhos do Pan-óptico (Jeremy Bentham em 1785), fazendo-nos sentir prisioneiros de nós mesmos, daquilo que nos é imposto onde quer que estejamos: na escola, na faculdade, no trabalho, na igreja, em locais públicos, na vida em comunidade, entre nossos pares, e até nos locais que deveriam garantir à liberdade de expressarmos nossos pensamentos e ideias. No entanto, nada mais é do que a reprodução de uma ilusão de óptica, que nos faz pensar que estamos certos e corretos; ou de nos sentirmos justos, verdadeiros, entendidos, sábios, entre outros, quando, na verdade, já tenhamos sido fruto do próprio engano que motivou nosso pensamento.
Se essas coisas são conhecimento e sabedoria.
Permaneço vivo ao elogio de minha insanidade.
Recife, 02 de novembro de 2021
Luiz Carlos Serpa