DEPOIS DE NÓS

Depois de nós

não há mais nada na vida,

nada no mundo

para pensar.

Depois de nós,

Só o mesmo estranho silêncio na alma.

Nenhuma fúnebre canção na desprimavera do mundo.

Nem crianças contentes brincando na jardim

da infância, de novo Deus

também inventar.

Depois de nós,

imaginárias ilhas Perdidas.

Narciso deitado à beira do lago, quase sem vida,

com seu velho espelho quebrado. Deslumbrado, sofrendo sozinho

sem nada falar. Olhando encantado a imagem nas águas,

com mãos de veludo, a beleza do rosto,

tentando tocar.

Depois de nós,

para homem terreno, de terço na mão,

desesperado e aflito, eterno castigo, não esquecer de lembrar.

De Tântalo, canibal, sedente e faminto, a água do poço, o fruto maduro,

no escuro das trevas, no alto do galho,

tentando pegar.

Nas costas marcadas,

nas mãos calejadas do homem sem alma,

a mesma sina macabra: Rocha bruta e pesada,

como um mundo de Átlas,

para inumano rolar.

Depois de nós,

apenas praças e bancos vazios,

nada no mundo, nada na vida para pensar.

Do ferreiro celeste angústia no peito. Amor de Hefesto

no Olimpo desfeito. No teto do quarto armadilha de rede.

Afrodite e Ares presos no leito. Flechas de Eros

voando no escuro, sem nada acertar.

No alto do Gólgota,

triste calvário do homem sagrado.

Respiração ofegante, marcas nas costas de tanto apanhar.

Coroa de espinhos, furo de prego no corpo ferido, sangue das mãos

ainda caindo, como flores sem vidas, espalhadas

no chão por todo lugar.

Na cálida e fria penumbra da noite,

nada no mundo para pensar. Só o mesmo compasso

do tempo, marcando tenebroso silêncio dentro da gente,

como caverna de Cilas, como queda de Ícaro,

caindo do alto, nas água do mar .

Depois de nós,

apenas antigas lembranças,

para alma dos mortos, no imo do Tártaro,

quando vivia, ainda lembrar.

Pelas sombras da noite.

Pelos encantos perdidos do mundo,

monstruoso silêncio, Nenhum ébrio, nem suicidas errantes

caminhando tristonhos , sob a luz das estrelas

e triste clarão, do mesmo luar.

Depois de nós,

os mesmos retirantes sem almas.

Negras formigas, Mirmidões andando em fila

na Egina de Éaco, de Peleu , do terrível Aquiles , saindo de tocas,

de pequenas fissuras da terra, sem rumo, sem nada nas costas.

Sem folhas secas, nem pétalas de rosas ,

para levar.

No mundo sem Cristo,

sem história de Jonas,

nem paraíso florido para inocente sonhar,

eterno vazio e assombro! Jazigo de fogo, para anjos decaídos

em ardentes chamas eterna, o homem discrente,

a alma queimar.

Depois de nós,

Nada na vida para pensar. No cimo do Cácauso,

Prometeu na rocha pelos deuses detido. O corpo ferido.

Das chagas abertas o sangue escorrendo. Correntes de aço

nos braços cumpridos, o roubo do fogo, o crime punido!

Ethon, a águia de Zeus, dilacerando no alto da pedra

pedaços do fígado; para nos dias seguintes,

outros pedaços, ainda sangrando,

do corpo tirar.

Nos braços de Dédalo,

o corpo do filho, o último suspiro.

Na gruta de Cilas eterno gemido. Na beira do lago

Narciso sem vida, o espelho caído. No fundo tártaro, Tântalo arrependido,

como um Cristo na cruz, gritando sedento e faminto,

a espera de Zeus, sua vida salvar.

Depois de nós,

só a mesma luz cintilante no alto do posto.

Sobre as águas calmas e serenas do Estige da morte,

Caronte, o barqueiro das almas sem vidas,

chegando de todos e incerto lugar.

No Tártaro,

na entrada do negro

e profundo abismo sem fundo, Cérbero,

o cão das trevas, vigia dos mortos, num canto rosnando.

Ao seu lado, Hades de braços abertos a espera de Cristo,

ainda menino, sentado num cantinho tristonho,

na sala dos mortos, sem nada falar.

Noutro cantinho escuro,

Persérfones no trono de ouro, pensativa,

olhando os mortos chorando, a alma de Ícaro

do barco descendo, para Minus de Creta,

em seguida julgar.

Depois de nós,

apenas estranhas negras formigas.

Mermidões andantes pelos Campos Elíseos ao lado Cristo.

Alegres crianças brincando e correndo por todo lugar. Nada de dor!

Nada de grito! Apenas beleza e silêncio divino! Seguido

de triste gemido de Sísifo, olhando da alto,

a pedra pesada, para baixo rolar.

De Deus,

relicário sagrado do homem,

apenas tormento e angústia no peito. Sem terra prometida.

Sem Josué, nem genocídio divino de povos. Sem feiticeira em coivara de fogo.

Sem morte na cruz, nem chicote na mão, para o lombo

do pobre menino descrente de tudo,

em dia festivo, do alto acoitar.

Jaíres Rocha
Enviado por Jaíres Rocha em 26/10/2021
Reeditado em 06/01/2022
Código do texto: T7372138
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