Ecos
1 - comida preferida
A que vem com risada, amor e diálogo inteligente. Pode ser servido com comida árabe ou japonesa. Inclusive pode ter kibe cru e sashimi.
2 - comida que odeia
Odeio não ter o que comer, sobretudo, quando tenho fome. Odeio quando só descubro que comi rápido depois que comi. Odeio comer rápido pois não presto a atenção no que estou comendo. Embora, posso dizer que de tudo que disse que odiava, o mais indigesto é o abacaxi.
3 - um domingo de sol é dia de...
Sunshine of your love.
4 - um domingo de chuva é dia de...
Tédio. Introspecção. Dia de ser tirano de si e de arrepender-se por ter que seguir. Sabendo que no próximo domingo de chuva vou lembrar que a vida é um rolo compressor de 7 dias. Onde cada semana acaba no domingo. Esse mesmo domingo lembra que sou um tictac e neste tempo envelheço. Domingo de chuva é lembrar que o tempo passou.
5 - quando está muito cansado, faz…
Quando estou muito cansado alimento meus demônios. Deixo um pouco a paciência de lado. Ataco a geladeira e como bobagem. Quando canso meus ombros ardem. Deito encolhido esperando que estarei acordando relaxado. Embora no outro dia parece mesmo que não lembro de nada. Só uma voz dizendo: não desista agora.
6 - no que acredita?
Até certo tempo da vida acredita nas pessoas. Solidariedade. Amor. Liberdade. No afeto coletivo capaz de mudar a sociedade. Hoje não sei se acredito no que acreditava. Nem sei se acredito no que acredito, muitos menos no que virei a acreditar. Cai na armadilha de acreditar que duvido do que há de ser possível acreditar. Acredito em acreditar. Duvido acreditando. Que um dia vai ter paz. Que um dia o amor vai nos salvar. Que um dia vou só acreditar. Não importa no que. Só acreditar.
7 - o que não acredita/deixou de acreditar?
Não acredito na prepotência de acreditar que somos capaz de compreender quem somos e de onde começamos. Não acredito na igreja. Não acredito que o Big Bag é a única razão para existir. Não acredito realmente que a terra é plana. Não acredito na violência verbal. Não acredito num amor perdido. Deixei de acreditar em mim muitas vezes quando poderia ter dito não e encurtado caminhos. Deixei de acreditar nas histórias reais para inventar histórias fictícias.
8 - como gosta de dormir?
Gosto de entorpecido. Leve. Suave. Até criativo. Mas não procuro o entorpecimento com frequência. Exceto quando quero sentir a vida com outra sensibilidade. Gosto de dormir sonhando. Sonhar na potência do amor na vida das pessoas. Sonho amar sem temer. Tenho até medo de sonhar um amor sem medo. Ficar refém do afeto do outro. Comer na sua mão algumas migalhas jogadas ao vento. Gosto de dormir por onde os sonhos insistem em voar.
9 - o que te faz se sentir em paz?
Não ter pendências. Dívidas. Diz da minha obsessão. Sentir paz é ocupar-me de não me ocupar. Ter paz é poder perder tempo. Atravessar vagarosamente a faixa de segurança no sinal aberto. A paz é uma regra imposta para acreditarmos que a vida é supostamente a busca por um equilíbrio. Onde a paz seria o nirvana. Mas essa invenção moderna de paz nunca existiu. A paz é caos. É desestabilizar todos os elementos da tabela periódica e ansiosamente esperar o resultado final. Sentir paz é ignorar a bússola para se perder pelo cantos.
10 - no fim do dia, quais são os motivos que te fazem dizer que “foi um bom dia” ?
Avalio meu dia a cada ato. Instante. Por isso, tenho sido reprovado em todas as provas. Bom dia é boa tarde e boa noite. Há dias em que a manhã, a tarde e à noite foram excelentes. Não há um único motivo para dizer que um dia foi um bom dia. Aprendo com os maus dias. Talvez até mais do que nos bons dias. Dói. Por isso prefiro o bom dia, ainda que demore mais para chegar no mesmo lugar. Um bom dia é um ou dois detalhes que percebi de muito diferente naquele dia. Pois comer, beber, caminhar faço sem lembrar. Um bom dia é para lembrar. Montar um conjunto de bons dias e formar uma banda para tocar esse repertório nos dias em que esquecer que você ainda tem seu valor.
11 - um lugar que vc nunca foi, mas que te move a construir condições para ir/estar? Por que?
Nunca fui muito longe de mim. Mantive-me por perto. Começo a duvidar que isso não tenha sido bom. Manter-me por perto pode ter inibido ações inconsequentes, comportamentos bestas. Ter eu por perto é ter um excesso de problematização. Inclusive, em alguns casos, tornarem-se problemas. Parte de mim quer o desconhecido. Parte de mim quer saber onde piso. Parece que esse lugar é um murro invisível. Nunca fui na maioria dos lugares que nunca ouvi falar. Só conheço se foi por leitura, foto ou fato. Do contrário só falo do que falaram que era maravilhoso conhecer. Repito o que imagino ser: Espanha ou Itália. Porque acredito que nestes lugares o tempo é devagar. As pessoas trocam ideias como quem complementa opiniões.
12 - um lugar que vc já foi, mas vc quer voltar quantas vezes forem possíveis. Por que?
El lugar donde viven hermanos y hermanas. Porque parece que sinto-me em casa nas terras de alguns antepassados. Como se os ventos conversassem comigo. Como se o chão estalasse. Como se aquele campo de perder de vista acalmassem a minha retina.
13 - uma comida que te lembra a infância?
Noque. Pão com ovo.
14 - um cheiro que te abraça?
O cheiro da grama recém cortada. O cheiro da cabeça da Maria. O cheiro de um livro recém folheado. Foi pedido um e respondi três. Devo estar precisando de um abraço.