Vai melhorar

Temos passado por momentos nebulosos, conturbados, de total desesperança, não é verdade? Seja coletiva ou individualmente, cada um de nós foi confrontado de alguma forma, por alguma razão, de maneira que nos sentimos cansados, exaustos, sem quaisquer perspectivas sobre o futuro. Aliás, o amanhã parece mais um abismo, deixou de ser aquele horizonte de luz, de boas expectativas, daquela ansiedade gostosa de sentir pelo que virá. O amanhã está parecendo algo obscuro, incerto, como se reservasse algo pior do que temos hoje. E não podemos nos culpar por nos sentirmos assim, estamos sofrendo, o mundo está sofrendo, milhões estão chorando e se lamentando pelas dores que precisou enfrentar. Mas não podemos perder a esperança. Por que vai melhorar.

Vai melhorar para o planeta, mas vai melhorar para nós mesmos também. O problema é que é difícil de acreditar depois que tantos sonhos tiveram que ser adiados ou mesmo interrompidos porque aqueles com os quais os realizaríamos já não estão entre nós. É difícil de acreditar quando tudo o que tentamos fazer foi isso e pareceu inútil, sem valor, completamente insuficiente. Só que a vida sempre foi assim. A humanidade sempre enfrentou problemas gigantescos e foi capaz de superá-los, foi capaz de enfrentá-los, vencê-los e seguir em frente. O que vivemos hoje, as angústias que sentimos no agora, não são nenhuma novidade. A dor sempre existiu. A dor sempre existirá. Que ela sirva para o nosso crescimento e amadurecimento!

Dessa vez a dor está sendo coletiva, mas quantas dores você teve que enfrentar em silêncio? Quantas lágrimas você derramou sem que ninguém visse? Quantas vezes você olhou para o horizonte em busca de respostas sentindo-se completamente desamparado? Mas você superou tudo isso. Talvez carregue algumas cicatrizes, lembranças que doem, mas você chegou até aqui. Tem força, embora não acredite. É capaz, apesar de não confiar. E ainda que não consiga olhar para dentro de si mesmo e notar o seu potencial, pode ter certeza de que há alguém por aí disposto a estender a mão para não deixá-lo sucumbir ao poço. Não estamos sozinhos. Nem na dor, nem na luta. Só precisamos deixar de lado o nosso egoísmo, a nossa visão distorcida que nos leva a acreditar que somos os maiores sofredores e o mundo conspira contra a nossa existência. Estamos todos sangrando. Alguns mais, outros menos. Mas estamos doentes. Não apenas por um vírus devastador. Estamos doentes, também, por não sabermos como ouvir as outras pessoas, como respeitá-las e como amá-las. Não sabemos, ainda, como amar e respeitar a nós mesmos.

A dor tem sido maior por estarmos em bolhas. E como se não bastasse, insistimos em encarar o mundo através das distorções que essas bolhas causam em nossos olhos. Estamos nos considerando inimigos. Estamos nos segregando por diferenças que não importam, por motivos tão íntimos, particulares e pessoais que não deveriam ser razão para distanciamentos, abismos e dissensões. Como se não bastasse a dor comum a todos, ferimos uns aos outros em nome de nossa ignorância.

Mas vai melhorar. Vai melhorar quando entendermos que fazemos parte de uma mesma espécie e que a diversidade que há entre nós nada mais é do que maneiras, formas diferentes de encarar e viver a vida. Vai melhorar quando conseguirmos abraçar quem não concorda com o nosso pensamento, mas o respeita sobretudo. Vai melhorar quando atingirmos um nível de civilidade no qual cada um será quem é e se sentirá pleno por permitir que os outros também sejam quem são. Vai melhorar quando nos permitirmos a aprender com o outro. Vai melhorar quando fazermos um importante e necessário esforço para vermos o mundo com os olhos do outro. Não quer dizer que deixaremos de ser quem somos, que deixaremos de acreditar no que acreditamos, quer dizer que apesar dos pormenores encontraremos abrigo uns nos outros, porque nossa única igualdade é que somos humanos, e talvez isso já resolva tudo.

(Texto de @Amilton.Jnior)