Desabafo
Eu nunca fiquei brava. Nunca me permitiram ficar com raiva, porquê raiva não cabia no "sapatinho de cristal". Eu cresci com a ilusão de submissão sob o nos do meu vestido e sou vítima dessa gentileza falsa, mas conveniente, disfarçada de dever. Como se eu devesse algo aos outros, mesmo antes de ter a chance de me perguntar o que eu devia a mim mesma. Me senti silenciada pelo traco do batom que aveludado contorna minha boca trancado a minha voz em meio a vontade que eu tenho de gritar, não sei de onde e não sei pra quem.
Mas está lá, aquela " vozinha" inconsequente que me alfineta a garganta vez ou outra me suplicando " fala alguma coisa" , " faz alguma coisa" , " só quebra alguma coisa"...Antes que seja você a voltar pra casa aos pedaços de novo, com o mesmo nó entre a garganta e o desejo de ser livre.
No fim, talvez nunca sejamos de verdade e a falta de coragem é o que me aprisiona, mas nunca me disseram que eu tinha uma escolha. Eu não quero mais sorrir e sentir ódio o tempo todo. Eu não quero desejar a morte de alguém que eu nem conheço e depois me convencer de que pessoas boas as vezes tem pensamentos ruins.
Eu quero ser a minha própria voz na minha cabeça, mas nunca me permitiram sequer pensar que isso existe.