Suicídio

Ela andava sempre em frente, estava seguindo o mesmo caminho a mais de 5 horas, seus pés criavam bolhas e estavam vermelhos de tanto andar, mas ela não sentia.

A única coisa que rondava sua cabeça era: "é minha culpa.... Eu não mantive o controle, eu me importei demais."

Com esse mesmo pensamento ela atravessou ruas, avenidas, atravessou vias de mão dupla, estava viva e intacta por vontade e livramento divino, visto que não se importava se iria morrer naquele momento.

"Alguém... Por favor, alguém... Faz parar de doer!!!!!"

Era isso que ela pensava a cada rua que passava e os carros não a acertavam. Ela não tinha pensamentos certos em sua mente, não sabia onde começou a bagunça das emoções e, nem mesmo, onde acabava!

Ela estava pensativa demais para notar que todos a olhavam nas ruas. Ou melhor, todos notaram as lágrimas incessantes que caiam de seus olhos e o ar cansado que manifestava.

Ao sentar numa calçada tentava numerar a quantidade de problemas e coisas que tinham dado erradas em um único dia...

Um trabalho, um relacionamento, um arroz, uma amizade, uma família...

De longe podia ouvir seu soluçar e quem a encarar bem vai ouvir:

"Alguém... Por favor, alguém... Faz parar de doer!!!!!"

Seu peito doía, seus pulmões não faziam o trabalho que deveriam, nada no seu corpo funcionava da forma correta. Não tinha sensibilidade que deveria na pele, não sentia o vento frio deixar sua pele vermelha, nem as lágrimas quentes causarem choque térmico ao tocarem suas bochechas frias.

"Por que eu to insistindo? Não tem sentido... Por que continuar respirando, se eu não sinto mais que estou viva?"

Esse tipo de pensamentos rondava sua mente a horas, junto com todos os outros. Sentia-se sozinha em todos os sentidos, e não sabia por que continuava insistindo em tudo na sua vida.

"Nada muda, nada acontecesse de forma diferente, é sempre a mesma coisa, a mesma sensação de fracasso, a mesma dor pelo mesmo motivo."

Um nó se formou em sua garganta, o choro se intensificou e todo seu corpo tremeu de raiva pela situação ridícula que se encontrava.

– QUAL É A DROGA DO MEU PROBLEMA?!

Todos a olharam assustados, mas não era um detalhe importante pra ela, não sentia mais a sanidade em seu corpo, não sentia mais nada na verdade – nada além de um grande vazio e da mentira sobre como era feliz com a vida de tinha.

– EU SOU A ÚNICA PESSOA QUE NÃO TENHO O DIREITO DE DESABAR, POR QUE EU SOU FORTE, EU AGUENTO TUDO! MAS NÃO É ASSIM QUE FUNCIONA! EU SINTO MAIS DO QUE TODO MUNDO DESSA FAMÍLIA, EU ME CULPO POR COISAS QUE NEM LEMBRO SE FIZ, POR COISAS QUE NÃO DEVERIA MAIS ME CULPAR! ENTÃO POR QUE AINDA COBRAM ALGO DE MIM?!

– EU NÃO TENHO ESTRUTURA EMOCIONAL, EU NÃO TENHO ESTABILIDADE, NÃO TENHO MAIS SANIDADE, O QUE ESTÃO ESPERANDO DE MIM?! OU MELHOR, POR QUE EU ESTOU ESPERANDO ALGO DAS PESSOAS?!

Ali mesmo, sentada naquele meio fio, ela abraçou suas próprias pernas e escondeu o rosto sobre os joelhos, começando a chorar compulsivamente após todos os seus gritos desesperados.

"Por que eu to insistindo? Por que tudo isso ta acontecendo comigo? É algum castigo? Eu fiz algo de errado? Ou é apenas eu que me importo demais? Que sinto demais? Será que eu dou demais e não recebo nada em troca..?"

As lágrimas se tornaram mais fortes, deixando os joelhos da sua calça encharcados.

"Por que eu espero sinceridade das pessoas..? O que eu to fazendo..? Por que eu espero que venha algo sincero das pessoas...? Ninguém nunca foi totalmente sincero comigo, e quando foi, me deixou em dúvida por logo em seguida fazer exatamente o que tinha feito antes que me machucou..."

Ela olhou para o chão, tudo que via era um borrão cinza enquanto sentia suas lágrimas caírem no asfalto velho da avenida.

"Por que eu to insistindo...? Do que adianta esperar que alguém mude por mim..? Não é como se eu fizesse diferença... Não é como se eu fosse importante a esse ponto... Pra que continuar com essa palhaçada, se tudo tá sempre se repetindo? A mesma dor, a mesma sensação de fracasso..."

Foi com esse pensamento que ela se levantou, e começou a andar em frente, alguns carros desviaram dela, mas o caminhão que vinha não conseguiu diminuir a velocidade e colidiu com toda força com a garota. Tudo que ela viu foi uma luz forte e logo em seguida tudo ficou escuro.

Quando sentiu o impacto do chão com seu corpo, ela sorriu e um último pensamento passou em sua mente antes de não sentir mais nada:

"Obrigada... Não ta doendo mais."

FayreMoon · Maria Izabel

09 de Outubro de 2021.

Fayre Moon
Enviado por Fayre Moon em 10/10/2021
Código do texto: T7360379
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