COMO SERIA A VIDA SE PERDÊSSEMOS A MEMÓRIA DE TUDO?

“Ecce enim ego creo

caelos novos et terram novam,

et non erunt in memoria priora

et non ascendent super cor”

“Eis que eu crio novos céus e nova terra;

e não haverá mais lembrança das coisas

passadas, nem mais se recordarão”

(Isaías 65:17)

Contemplo agora as horas... do tempo de todas... as almas

Que são... elas?

A vista pergunta o que é, pois, noss’história?

Memórias... (guardadas), vede o que são

Seriam boas [todas]?...

Seriam... ruins [também todas]?

O que cad’um carrega em su’alma?

Alguém sentiria num’hora a que sua vida iria embora?

Não, não digo a somática vida

Refiro-me agora a tudo o qu’escrito está "dentro" de nós

Tudo o que impresso s’encontra no "corpo" do pensamento

Perguntai-me o que é a vida e eu lhe direi que é a noss’história

... escrita na soma das horas... dos dias... dos anos...

E até mesmo dos minutos (que marcaram um momento)

Como, por exemplo: um olhar de despedida... um aceno de adeus

... ou mesmo uma dura e ofensiva palavra (ou gesto)

Isso mesmo, cada qual tecido no movimento d’um minuto

(Que não s’esquece)

Quanto o tempo é fecundo, meu Deus!

Memórias... lembranças... narrações... ensinamentos... recordações

Eis noss’história [viva e dinâmica]

E a Vida generosamente nos sustenta

Ainda que nem percebamos a su'ação

Ainda que lhe somos tão indiferentes

Mas Ela nos sustenta... sim (o tempo todo)

Não só pelo pão que aos nossos corpos oferta

Como, e, sobretudo, provê a noss’essência: o pensamento

Alzheimer!

Essa neurodegenerativa doença a ceifar a mente de tantos

Não conheço enfermidade pior

(Dentre tantas qu’eu já n’outros presenciei)

E como ela humilha!

E não discrimina nem tem preferências por ninguém

É inexorável... (sem piedade)

Até muitos poderosos foram por ela... "contemplados"

O que somos aqui é o que acreditamos no que impresso se acha

... em nossas mentes

Tirou-se delas e não somos (e não temos)... nada

Apartamo-nos de nossa própria história

E se não mais se lembrará, eis a vida a ter chegado ao seu final

Queres imaginar algo?

E se todos perdessem a memória [para tudo] agora!?

Como seriam nossas vidas?

Sim, de tudo aquilo que fizemos nela... mundo afora!?

Como seria o mundo... a partir dest’hora?

Se todos não mais se lembrassem de nada!

E qu’esquecido seria tudo:

Nossos nomes... endereços... amizades... amores... pessoas...

... em que lugar trabalhamos... nossos filhos... pais... parentes...

Ou mesmo o que fazemos no cotidiano dos dias

E evacuadas fossem todas as abstratas roupagens nossas:

Identificações políticas... religiosas... nossos amados rótulos...

Onde de nada mais então se recordasse

A partir d’uma hora em que não saberíamos nem quem somos...

Ou onde moramos, ou o que seja nosso ofício e trabalho

E não saberíamos nem quem são as pessoas ao nosso lado

A que não poderíamos contar co’elas

Visto que também perderam suas memórias

Estaríamos, com certeza, todos apavorados, não?

E então, como seria o mundo a partir dest’hora?

Como seria a vida se perdidas fossem todas as memórias?

Seria bom, desd’então?

Seria melhor ao que recomeçaríamos uma nova História?

Verdade é qu’eu não sei responder

Alguém poderia dizer?

Vejamos bem:

Caso não se lembrasse mais d’uma ofensa, esquecido seria, portanto,

... o ofensor

Ai, então, eu pergunto: seria bom?

Talvez não, visto que melhor seria, na verdade... “perdoar”

Todavia, entendendo-se aqui que perdoar não é sinônimo

... de esquecer

E da essência ainda em evolução (a que somos), decerto que da

... memória muito dela precisaríamos,

Sobretudo, para lembrarmo-nos os antigos erros na vida cometidos

(A fim de não mais repeti-los)

Se a tocha acesa do entendimento iluminou um caminho [errado]

... que ele queime com seu fogo a memória [do passado]

Todavia, aqui também, que ninguém s’esqueça:

Este é um tempo de arriscar e seguir em frente (mesmo se errar)

Contudo, jamais com uma maldita vida... se adaptar

Mas...

Lembrar... (o quê)?

E...

Esquecer... (o quê)?

Enquanto lembranças tiver a alma, viva estará (no tempo)

Engana-se quem crê que só d’entedimentos somos feitos

E vomitar as memórias?!

Talvez melhor, não

Ou talvez melhor, sim

Confesso qu’eu não sei...!

Contudo, pergunto-vos agora:

Quem é você [aqui]?

Qual o seu verdadeiro nome?

Em quantas mentiras [no mundo] já entregou sua vida?

E em quais neste momento acreditas?

Serias corajoso demais para ti delas se despir [a partir d’agora]?

Em que crês [no tempo de sua jornada... de seu exílio]?

Ou crerias que tens aqui morada eterna?

É fato: Já não és mais virgem (ninguém é!)

Maculada s’encontra su’alma

E o que será dela depois do termo [de seu tempo]?

Acaso sê-la-ia a bagagem a qu’então “par’um outro lugar" levaria?

"Outro lugar" depois d'aqui!

Quem pode garantir que tal lugar... existe?

Eu não acredito

(Mas que fique bem claro: é apenas a minha opinião)

Não acredito nem em ressurreição nem em reencarnação

Só uma mente egoísta é que crê nessas coisas

Embora eu acredite, sim em "transformação"

Da lição da semente que morre na terra mas que "não volta"

... como semente (a que foi)

Mas, sim, como uma planta ou uma árvore

D'aquela que morava no âmago da própria semente

Acreditar em "outro lugar" é mais outro motivo de protelar em

... ser feliz [aqui e agora]

Par'alguém poder afirmar que prefere ser feliz... somente "lá"

Ah! Deixa pra lá!

Memórias da terra... no céu (a que nele acreditas)?!

Queres, pois, não perdê-las?

Isto é contigo (e c'outros semelhantes a ti)

Quanto a mim, eu não quero lembrar de nada... do qu’eu vivi aqui!

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05/10/2021

“Sai e busca”

(Buda)

Estevan Hovadick
Enviado por Estevan Hovadick em 05/10/2021
Reeditado em 05/10/2021
Código do texto: T7356953
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