Na ponta do nariz
“Quantas vezes a gente, em busca da ventura, procede tal e qual o avozinho infeliz: em vão, por toda parte, os óculos procura, tendo-os na ponta do nariz”. Essas palavras de Mario Quintana podem ter um significado majestoso nas nossas vidas e representar um alarde necessário para que saibamos viver com sabedoria e dignidade, otimizando o tempo que nos foi concedido, aproveitando cada instante sem desperdiçar a oportunidade que temos. Às vezes, como desbravadores impacientes, procuramos por algo como se estivesse muito longe de nós, muito alheio à nossa realidade, muito distante do nosso potencial. Nessa busca desenfreada dirigimos os nossos esforços a um destino longínquo e quase inalcançável, ao passo que o que precisávamos ou que realmente era nosso, esteve sempre bem debaixo do nosso nariz, porém, cegos por grandiosidades e planos mirabolantes, não fomos capazes de enxergar aquilo que tantas felicidades nos garantiria, algo tão pertinho das nossas mãos, algo para que conquistar talvez devêssemos apenas esticar os braços.
Por que agimos assim? Por que somos, em tantas ocasiões, incapazes de perceber que a solução para as nossas necessidades e desejos, encontra-se bem do nosso lado ou, até mesmo, dentro de nós? Por que vamos tão longe em busca de um tesouro que está tão perto? Porque achamos que é de onde não esperamos que a nossa conquista virá. Nós não acreditamos na nossa capacidade. Desvalorizamos aquilo que está ao nosso redor. Desmerecemos as pessoas que caminham conosco. Menosprezemos as ferramentas das quais nos dispomos. Colocamos todas as nossas fichas em algo imaginário, que pela distância parece tão robusto e formoso. Mas as distâncias, com o tempo, acabam se encurtando e, o que parece tão belo, revela-se feio. E aquilo que ignorávamos com tanta veemência, demonstra ser tudo que tanto buscamos. Resta saber se ainda haverá tempo para retrocedermos em nossos passos e termos entre os nossos dedos o que sempre esteve à nossa disposição, mas que agora, em virtude da nossa ignorância, pode ter encontrado caminhos melhores, horizontes mais bonitos, olhos que o valorizassem como merecia.
Esteja atento à vida. Não pense demais. Não sonhe ao extremo. Entregue-se e renda-se à realidade que está bem diante dos seus olhos. Saiba enxergar. Não apenas com os olhos materiais, mas, sobretudo, com os olhos da alma, com os olhos que estão conectados ao coração e que nos permitem saber, reconhecer, quando estamos de frente com o nosso tesouro.
(Texto de @Amilton.Jnior)