Marcas do viver

Existem "coisas" que jamais serão esquecidas, marcas que carregaremos até o fim da vida - por toda nossa trajetória. A grande questão é se essas histórias se tornarão abismos ou se criarão caminhos. Serão como feridas abertas em que nos afogaremos o tempo todo? Ou então, permitiremos que cicatrizem e tornem-se mapas de onde estivemos um dia? Serão "apenas" [as penas] pesos ou além deles, preciosos ensinamentos para que enfim passemos?

Em cada marca habita imensa dor. E isso nos leva a tentar evitá-las, escondê-las (até de nós mesmos) e enterrá-las. No entanto, elas vivem - e nos fazem sangrar, mesmo que no silêncio gritante das horas mais escuras e mesmo que nem saibamos onde está a ferida ou a causa. Mas algo acontece quando as enxergamos...há dor - muita dor e há algo mais que está lá...uma parte nossa mora nelas. E quando nos reconectamos com essas partes, através também da dor e além dela, podemos começar a transformar os abismos em caminhos, os vazios em sentidos.

Fazer das marcas, desculpas para a auto-tortura ou para distribuir a culpa, ou então, fonte de saberes para vivermos humanos e de força para superar as pedras e reconhecermos a nós mesmos, são escolhas de cada momento: hoje nos afundamos, amanhã passamos, ontem odiamos o reflexo no espelho, hoje o amamos - cada dia podemos decidir como seguir. Há tempo de cavar, abrir as feridas e deixá-las sangrar. E há tempo de as deixar nos curar e passar. Enquanto houver vida, há tempo.