ÀS VEZES

Eu achava que os males da existência eram os problemas dos ansiosos. Não que eu pensasse que as outras pessoas não os tinham, mas os ansiosos sempre os têm em demasia, até porque entre dormir e acordar há um hiato: ora de persistência, ora de passividade.

Às vezes, persistir é fundamental. Afinal, já dizia alguém que não sei o nome e nunca vou saber: só se pode ter uma boa colheita, plantando. A pessoa não disse exatamente isso, mas usando da minha licença poética, eu adaptei o dito de alguém. Algum desconhecido que achava que persistir era sinônimo de vencer. Não sei se é um coitado ou se é um gênio, porque todos os coitados e gênios persistiram e só depois de muito tempo tiveram algum resultado.

Ao mesmo tempo, ser passivo é mais do que delicado: hoje, eu penso que é obrigatório em nossa existência. Tentei uma vez e não deu certo? Deixo pra lá , porque é isso ou investir 20 anos. Mas será que eu tenho 20 anos para investir? Não estou assinando uma sentença de morte, estou assinando uma sentença de vida! Em 20 anos eu poderia ter feito muito mais do que insistido na inevitável catástrofe que viveria, se tudo der errado. E ninguém vive muito bem estando frustrado.

Essa história de persistência e passividade é só detalhe. Deve ser mais um ponto detalhado da vida. Aquele momento frustrante em que existem dois caminhos: viver para a saciedade ou viver para a consciência, sabendo que um depende do outro. Às vezes, se escolhe a consciência e se passa por momentos de saciedade. Às vezes se escolhe a "saciedade" (ela está sempre sedenta e isso me cansa) e se vive de maneira consciente.

Está vendo? Esse é o caos de pensar. Pensar dói e não me canso de dizer. Mas, eu ainda me sinto completa pensando, mesmo que a falha da minha juventude seja essa, essa mesma que nunca vi nada demais. Igualzinho o texto: ora persistente, ora passiva.