Frustração e Ansiedade
Se vocês todos que estão lendo esse texto estivessem diante de mim e eu lhes perguntasse quem já pensou em adivinhar o futuro, ou, indo mais além, quem já desejou saber a data exata da própria morte, acredito que a maioria, se não todos, levantaria as mãos. E dentro dessa maioria eu também me incluo, é quase impossível resistir à ideia de tentar saber o que vai acontecer, quando vai acontecer e como vai acontecer. Mas a vida só tem graça, a vida só é realmente vivida, porque guarda segredos que jamais nos serão revelados até que sejam realmente experimentados. Então não adianta preocuparmo-nos com o tempo que nos resta, não adianta ficarmos nervosos por nunca encontrarmos a resposta que queremos. Só precisamos saber que o futuro vai acontecer, que um dia a morte chegará, mas que até que tudo aconteça, consigamos viver da maneira mais plena e sábia possível. Que não cobicemos quantidades, querendo ostentar o tanto de lugares que conhecemos ou o número de certificados que conquistamos, mas que possamos valorizar a qualidade de nossas conquistas e vivências fazendo de um passeio no próprio bairro uma grande oportunidade para lições que não exigiriam de nós que nos deslocássemos para Dubai ou voássemos para Londres, porque a riqueza da vida não está nas coisas materiais, mas naquilo que nos toca e transforma em nossa essência.
E viver ansioso querendo saber o que vai acontecer depois, depois e depois, não nos causa outra coisa senão frustração. Idealizamos tanto uma coisa, damos-lhe tanta importância, que na hora que acontece já não possui o brilho que poderia possuir, já não desfrutamos daquilo com a intensidade que desfrutaríamos se apenas deixássemos que as coisas acontecessem em seu próprio tempo e ritmo. Imagine que você tenha um sobrinho. Hoje você o visitou, mas antes de ir embora prometeu que na sexta-feira da semana que vem trará um presente. Aquela criança fica cheia de empolgação em relação à fatídica sexta-feira e fica perguntando para a mãe, a todo o instante, se já chegou o dia. Só que nunca chega. Então ela fica imaginando o que pode ser de tão especial para que ela deva esperar tanto. Seria um videogame novo? Uma pista de corrida? Ou um jogo de cozinha? Até que a sexta-feira chega. Mas o presente que você possuía em mente era algo simples, apenas uma lembrancinha, apenas um gesto gentil para que ela soubesse que foi lembrada em suas memórias. Você lhe trouxe uma bola ou uma bonequinha de pano. Coisas simples. E você pergunta se aquela criança gostou. Quando ela termina de abrir o embrulho, com todo aquele êxtase por descobrir logo o que há ali, olha para você com aquele olhar constrangido. Ela não quer dizer que não gostou, que esperava por algo melhor, mas você consegue reconhecer em seu semblante desapontado que não era aquilo o que ela esperava. Toda aquela ansiedade, que gerou uma expectativa tão grande, agora se mostra algo completamente aquém do esperado.
É diferente de quando você simplesmente presenteia sem programar datas, simplesmente chega com o presente para o seu sobrinho e lhe entrega. Ele não esperava por aquilo. E fica perguntando o motivo para ser presenteado se não é o seu aniversário, nem o dia das crianças, muito menos o Natal. E você diz que é apenas um presente, apenas para que ele saiba o quanto é querido. Ele desembrulha a surpresa e se derrete de felicidade mesmo que seja uma simples bola ou uma discreta boneca de pano. Pula em seu pescoço, agradece pelo presente e o convida para se divertir junto a ele com o novo brinquedo. Não havia ansiedade. Não havia expectativa. Havia apenas abertura para as surpresas da vida.
Percebe o quanto que viver ansiosos pelo porvir apenas no atrapalha? Esperamos coisas grandiosas da vida, enquanto, naquele momento, ela só pode nos oferecer algo simples, ainda assim de um valor imenso para quem sabe recebê-lo. Ou pode até estar reservando algo grandioso, mas que perderá seu significado porque a ansiedade foi tanta que a nossa energia se esgotou para desfrutar daquilo que está em nossas mãos. Não estou dizendo para que vivamos desleixados, sem projetos, deixando o barco navegar sem rumo. Estou dizendo para que, mesmo com planos, estejamos conectados ao agora porque é nele, e apenas nele, que podemos fazer a nossa vida acontecer. Seja como a criança que foi surpreendida. Pule no pescoço da vida quando ela o presentear e a convide para se divertir com você.
(Texto de @Amilton.Jnior)