O EU e o MEU.
Quando falo com alguém ou comigo mesmo, sempre me refiro ao meu corpo e meu espírito em terceira pessoa, exatamente como fiz agora. Pode parecer normal, mas então quem é, realmente, a primeira pessoa que está falando deles? Quem sou o "EU que fala"?
Se minha essência imutável é o meu espírito, e o corpo é apenas uma veste temporária, que ofusca, em certa parte, suas faculdades em relação aos sentidos materiais. Por que não me dirijo ao espírito, consciente de que ele sou eu? Como se fosse alguém diferente. Externo.
Se até pouco tempo, quando não me reconhecia senão pelo meu lado corporal, ignorando completamente meu lado espiritual, e mesmo assim pensava nele como "meu corpo", não simplesmente "eu". "Meu espírito", e não simplesmente "eu". Então o que é esse "eu" a quem essas partes pertencem?
Se esses não são eu, quem é que está sempre em primeiro? Falando e ouvindo tudo no pensamento, sentindo e analisando, querendo e afastando... É o que chamam de consciência? Intuição? Mas também não as chamo de "minha consciência", "minha intuição"? Ainda não são "eu".
Se esse em primeiro é, como o resto, apenas uma parte de mim, e a união de tudo sou eu verdadeiramente, então não é errado essa voz dentro do pensamento dizendo: "MEU. MEU. MEU", pensando nas outras partes como algo que pertence a ela?
Se, após a morte, meu corpo devolve seus materiais para a terra e o espírito se liberta, por que digo que é "meu" e não "eu"? Impedindo de me perceber como primeira pessoa, enxergando tudo de longe.
Perceba uma coisa: Sem mover um único músculo, você consegue dialogar por intermináveis horas dentro de si; ouvir e julgar tudo como se conversasse com um amigo; visualizar inimagináveis cenas, pessoas, números, caminhos, tudo sem sair do lugar; sentir, com precisão, o frio das correntes de ar num tempo nevado atravessando suas roupas, ou a aridez de um deserto, fazendo escorrer o suor na testa e secando a garganta, tudo isso sem nunca ter presenciado tais eventos; muitas vezes tudo é rotineiro, outras deslumbrantes, algumas parecem uma informação externa, apenas jogada a nossa frente, como uma voz nos avisando, orientando; ou uma crítica querendo apenas nos humilhar, insultar, desprezar. Essa voz da leitura, juntando as letras para formar um som inaudível, você está ouvindo agora dentro da mente, e sentindo simultaneamente o que essas junções transmitem. Ela diz ser apenas você, mas eu sei que não é, pois o que também deveria ser você, ela nega como parte igual de si.
MEU corpo. MEU espírito. MEU pensamento. MINHA consciência. MINHA vontade. MINHAS partes. MEU planeta. MEU ser...
E MEUS parabéns.
Agora você também sabe, para consumir tudo para si dessa forma, quem falou esse tempo todo foi o egoísmo.