Qual é a sua culpa?

Freud tem uma pergunta para você nesse momento: “Qual a sua responsabilidade na desordem pela qual você se queixa?”. Pense um pouco sobre isso. Em muitos momentos das nossas vidas, sendo incomodados por algo que nos aflige e desagrada, buscamos por culpados, e responsabilizamos até quem nunca nos dirigiu uma palavra, só não apontamos a nós mesmos. É como se fôssemos imunes. Até porque jamais faríamos algo de ruim para nós mesmos, não é verdade? É aí que nos enganamos. Talvez não façamos diretamente, conscientemente, mas podemos tomar caminhos, fazer escolhas, seguir direções que nos levaram para aquela situação tão malquista. E melhor do que ficarmos procurando por culpados e responsabilizá-los completamente, é entender que também temos a nossa parcela sobre quase tudo o que acontece na nossa vida e que cabe a nós mudar as direções que nossos caminhos tomaram.

Isso não quer dizer que ninguém nos machuque, que as ações dos outros não tenham influência sobre nós, ou mesmo que quando realmente formos a vítima devamos fechar os olhos e assumir a responsabilidade, não é esse o propósito. O fato é que quase sempre, na maioria das situações, também somos responsáveis pelos desfechos. E só podemos melhorar se mudarmos os passos que nos levaram até eles. Ou seja, em determinadas experiências das nossas vidas não adianta afastarmos as pessoas, mudarmos os cenários, alterarmos o roteiro, se não transformamos a nós mesmos, se não mudarmos o nosso próprio jeito de pensar, de agir, de olhar para a vida. Porque, assim, estaremos sujeitos às mesmas conclusões de outrora, porque ainda seremos as mesmas pessoas. Quando entendemos que também temos responsabilidades, então compreendemos que também precisamos mudar para que as coisas mudem.

Não é um empreendimento fácil. É mais simples e prático colocarmos toda a culpa nos outros, porque aí estaremos nos convencendo de que a mudança deve acontecer neles, de que o perdão deve partir deles, de que a correção pelos erros deve ser feita somente por eles. Mas é um empreendimento enriquecedor e nobre reconhecer que somos os autores de muitas das nossas lamentações. Libertamo-nos dos outros. Se eles não mudam, não tem problema, seremos a mudança. Se eles não reconhecem a necessidade do perdão, também não há problema, seremos nós os perdoadores. E não perdoaremos apenas a quem nos fez algum mal. Perdoaremos a nós mesmos também por termos permitido, de alguma forma, que tivessem poder e influência sobre nós. Teremos a capacidade de assumir a nossa história. Teremos a capacidade de sermos honestos o bastante para colocarmos em nossas costas a bagagem que nos pertence, sem delegá-la aos demais.

(Texto de @Amilton.Jnior)