Prisioneiros de exigências
Podemos considerar que vivemos em sociedades livres. Em comparação com passados não tão distantes, somos pessoas mais livres, podemos expressar nossas opiniões e não sermos torturados por isso. Pelo menos as leis garantem que somos indivíduos livres, dotados do direito de pensarmos e vivermos como bem nos agrada desde que não firamos a liberdade de outrem. Contudo, ainda assim, vivemos aprisionados, acorrentados, como se estivéssemos catatônicos, apenas reagindo aos reflexos, respondendo aos estímulos. As cadeias nas quais nos encontramos não são feitas de ferro e bloco, nossos olhos não podem vê-las, apenas o nosso íntimo pode senti-las. São invisíveis, atrozes, dão-nos a sensação de liberdade, enquanto nos obrigam a seguirmos por caminhos que não gostamos, mas que, sem a capacidade de crítica, aceitamos como os ideais. Augusto Cury bem alertou: “Nunca houve tantos escravos vivendo em sociedades livres. Só que as algemas não são mais físicas, são cárceres emocionais”.
Seja feliz! Alcance o sucesso! Esteja atraente! Tenha alguém do seu lado! Possua uma família! Compre o carro do ano! Viva na casa dos sonhos! Não aceite se a sua vida for menos do que o impossível! É isso. Vivemos presos às essas exigências, a esses ideais de vida, como se eles fossem mesmo alcançáveis, como se fossem passíveis de serem conquistados. Se não nos sentimos felizes, entramos em desespero, corremos às farmácias, hoje compramos medicamentos para o mais comum sintoma que qualquer ser humano poderá sentir: tristeza. Em nome das exigências de sucesso, qualquer coisa que coloque à prova a nossa capacidade já é o bastante para nos apavorar, causar ansiedades intensas, quase insuperáveis, ou mesmo nos entregar a um pânico assombroso. Se não nos sentimos atraentes então julgamos que o mundo inteiro nos considera uma aberração. Se não temos alguém convivendo conosco, é como se fôssemos as pessoas mais solitárias e desprezadas do planeta. Percebe? Em nome de exigências descomunais e impiedosas, coisas normais se tornam um pavor. É normal sentir-se triste em algum momento, é normal acordar numa bela manhã e sentir que o cabelo está nos desafiando, como também é normal demorarmos para encontrar alguém com quem possamos construir uma vida, sendo também normal não termos a menor necessidade de construir um futuro com o chamado “amor da nossa vida”. Passamos a cobiçar coisas pelas quais não nos interessamos realmente, tudo porque há uma ditadura invisível, penetrada na mente das pessoas, que nos força a lutar por objetivos muitas vezes incompatíveis com o nosso próprio ideal.
Liberte-se das ordens e exigências. Você já sabe o que quer da vida? Talvez a sua única obrigação seja essa: descobrir o que você quer. Uma vez feita essa descoberta, nada mais importará, a equivocada ideia de felicidade constante deixará de incomodá-lo, você não mais medirá o seu sucesso pela régua dos outros, e, até que você sinta a necessidade de uma outra, sua própria companhia será tudo de que precisará. Liberte-se dessa prisão que aliena a muitos e seja um dos poucos que voa o próprio voo, caminha pelo próprio caminho!
(Texto de @Amilton.Jnior)