Ao Santo Papa
Ao Santo Papa: - Escuto suas palavras como de um assassino, não creio em vossa honestidade, todo sacerdote mente, ainda que às vezes, raras às vezes mintam com inocência. Sois vassalo de Paulo de Tarso, e por isso vós sois cúmplice da maior mentira da história.
Eu vos acuso: Assassinos! Todos vocês! Foi você e sua vanguarda de sacerdotes que matou a única verdadeira tentativa de felicidade evangélica sobre a terra, e não fora dela, como desejais. O evangelho ensinado por Jesus não era nada mais que uma prática, uma maneira de viver, e não uma fé. Ao fazer de Jesus um juiz, ao colocar a fé no lugar da obra vocês mataram o evangelho. Se descontarmos o delírio da ressurreição e todo o absurdo que daí decorre, isto é, todo o evangelho pregado pelos sacerdotes, o que resta é uma maneira de viver e se sentir divino, filho de Deus, ainda que tudo se mostre o contrário na terra. A felicidade evangélica não era uma promessa, ela estava a disposição de quem quisesse - o "Reino dos Céus" está em vosso coração. Jesus morreu como viveu, sua morte, sem resistência, sem ressentimento foi a prova viva de sua doutrina, a eternidade não era um prêmio, era uma consequência caso se viva evangelicamente; foi após sua morte, morte esta insuportável, pois ali na cruz pendia o "salvador", que seus discípulos, eivados de vingança, na soleira de Paulo depois de sua " visão " em Damasco, que toda a realidade da praxis de Jesus foi posto para p " além ", como se Jesus, com sua maneira diferente de ser já não tivesse superado essa pálida e mesquinha entidade que chamamos de " eu ". A imortalidade pessoal é um soco no olho de Jesus.
Mas há de chegar o tempo de vossa ruína, senhores sacerdotes; vós mesmos já pressentem as nuvens escuras que pairam sobre vosso céu. Tudo está preparado para esse fim, tudo que até hoje foi chamado de sagrado e estava assentado sobre vossos valores irá desabar, isto é - caso isto seja uma novidade para vocês - toda a moral cristã.
Até lá desfrutem de seu poder, pois ele lhes será tirado das mãos.