Desarmônico/Harmônico
Um clássico sinal de imaturidade intelectual é o do sujeito que alega ter encontrado a verdade, o possuidor da verdade, onde muitas vezes não sabe o preço do arroz, pois se prende ao que seu mestre afirmou sobre os preços. Um clássico sinal de pouca inteligência é a do sujeito que faz exegese refutando somente uma observação com um argumento precedido da premissa a qual foi questionada. O indivíduo que não consegue estabelecer métricas para esquematizar críticas, observações, e respostas, em pesos não quantitativos, mas qualitativos, ou é desprovido de um bom senso crítico, ou possuidor de uma preguiça miserável da qual nem os niilistas passivos, e cínicos possuíam.
A projeção do Pai em políticas, e políticos, é um dos cernes da filosofia de Burke. A observação de que o binário da dialética materialista nem se enquadra no científico, pois não há empiria, ou como rastrear na história, e muito menos inferir evolução, não só nos revela o historicismo, como também nos revela o tropeçar no desamparo.
A observação de passagens não tão levadas em conta, como no livro da dialética do esclarecimento, ou o seu próprio intuito, como também no livro o futuro de uma ilusão, não só nos revela uma busca genuína, como também a clássica humildade do cético.
Quando entendemos que o tropeçar no desamparo é quase inevitável, entenderemos que o verdadeiro ato de coragem, ou até mesmo do herói, é daquele que com tantas dúvidas e ausência de consensos nega agarrar-se em algo. Quando o indivíduo entende que é nítido que a realidade existe independente de nós e que se sobrepõe a nós, e que por mais que nos isolemos no útero, vulgo imaginário, nossa teoria não terá abarcado sequer o necessário para os deixarem boquiabertos por muito tempo, pois precisam trabalhar amanhã, e "os seus patrões os explorarem", seria o suficiente para esses indivíduos não cometerem tantas atrocidades em prol de um futuro melhor, onde a razão teria superado todas as amarras, em suma, as ilusões.
A crença do indivíduo que alega ter encontrado a verdade não só me é nítido a mesma natureza dos seus criticados, como também era para Freud. A própria aceitação do necessário faz dos dogmas mais racionais do que muitas ideologias, pois o futuro é tão incerto que o bater das asas de uma borboleta no Brasil pode ser uma das variáveis necessárias para uma série de variáveis em cadeias causarem um tornado na China.
Não só em filosofia clássica, pelo oposto do sublime em Kant, mas também na negação do princípio de realidade, ou até mesmo do indivíduo que se encontra no quadro de psicose, mostra o quão ridículo é o sujeito que alega saber a salvação, primeiro, quem disse que tem salvação? Segundo, o quanto você sabe sobre o mundo? E o mais elementar, o quanto você sabe sobre você? Afinal, você forrou sua cama hoje? Forrou reclamando? Por isso a prudência como uma das virtudes essenciais de um homo-sapiens-sapiens adulto.
O mundo não só é desarmônico e por isso sofrimento, como a constante fuga do tédio e o desejo em conjunção carnal com o sofrimento, nos remete a um polo e com a relação com o corpo, o conhecimento se dar através de um processo de percepção das sensações, o indivíduo/mundo, o mundo/indivíduo, na constituição do ser, a dor, o sofrimento. Com o em si inacessível, nos remete a um agnosticismo, e não ao solipsismo, por isso a busca pelo fortalecimento, daí o papel da dor. A subjugação do princípio da razão pelo da vontade se dar pelo dever e pelo se aproximar em vertical, o fogo que tanto consome. A aceitação de que de fato é assim e que não podemos fazer nada, apenas cuidar de nossa vida, tudo isto não é um sinal de covardia, pelo contrário, pois é muito mais fácil recair em risos infantis, conforto com certezas, não saber, daí o imaginário, do que aceitar nossa impotência, e que o mundo não foi feito para nós, ele existe independente de nós, antes de nós e continuará existindo depois de nós. A harmonia só se dar pelo amadurecimento, que se dar pela aceitação e a aceitação pela coragem. O persistir é reafirmasse e o reafirmasse te fortalece, daí o eu tenho o que fazer e eu o farei. Simples e fácil, sem discussões, pois o discutir só é válido com as premissas corretas do quadro humano, da natureza humana, seu espectro do mais baixo ao mais elevado, e se ainda o persiste, se faz negação pelo desejo, e não a vontade e ignorar o factual é tolice.
Criado: 03/01/21