Rubem Alves
A pedagogia do espanto de Rubem Alves, tendo Platão como inspiração, não pode ser vista apenas em si mesma, ou até mesmo por si mesma. Vejamos, o fato do processo de aprender se basear no espanto para com uma determinada questão, ou seja, uma curiosidade que não se cala até ser respondida, podemos presumir que no sujeito já há uma pergunta, uma questão a ser respondida, porém, muitas coisas estão para ser respondidas e simplesmente deixamos de lado, mesmo sendo nós mesmos que nos espantamos, então a questão do espanto em si, não é suficiente, o que virá depois é o essencial, ou será o que veio antes? Vejamos, muitas coisas nos desperta a curiosidade e quase todas elas são temporárias, investigar o motivo delas como simbólico não só não é necessário como quase inenarráveis para além do sujeito, então vamos ao mais simples, ou seja, reduzir ao nosso cotidiano, fazendo isso logo veremos que curiosidades brotam o tempo todo ou muitas vezes ao longo do dia, mas por muitos motivos a deixamos de lado, sendo quase sempre a nossa rotina que devemos seguir, *nosso dever*; não levando em conta se isso é puramente uma persona ou se persona se constitui também de identificações da ordem do irredutível ou mesmo descoberta se investigada (associações _ fantasias, traumas, identificações de alteridade, etc...), estando no nosso pré-consciente, quase sempre o agora, o imediato _ regido pelo princípio do prazer _, vence, esse imediatismo é uma reafirmação egoica e isso quase nunca está presente na busca pelo conhecimento, sendo justamente o contrário no adulto, onde o além do princípio do prazer é o que rege (ou deveria em tese), sendo este o motivo que quase toda dúvida que brota logo morre. Essas dúvidas são justamente as que não têm relação simbólica com o sujeito, são produtos neurofisiológicos, pois não podemos esquecer que nosso encéfalo se tornou maior além do necessário, dado o contexto de pura sobrevivência, sendo assim, a dúvida que sobrevive, insiste, não é simplesmente uma dúvida, ou uma possível solução para um sofrimento _ psíquico ou ontológico _ ou uma resposta para alguma questão, dado em sonhos, etc... Quase sempre o ontológico só se torna consciente de fato em encéfalos devidamente usados, sendo assim, no campo pedagógico, a dúvida que persistirá para além da resposta, fazendo o indivíduo continuar na busca pelo conhecimento, se dará apenas ou se concretizará apenas com o outro polo que pulsa, a outra instância, no outro lado do pêndulo, ou seja, o dever. O romântico, o humanismo tão presente nesta concepção, é insustentável diante da vida, da monstruosidade dos problemas reais, das pessoas reais e da dor que pode ser experimentado de diversas formas, e sem levar em consideração a angústia, Penso que o que sucederá depois da dúvida é a busca, isso claro, se não presente estiver a pulsão de morte, como por exemplo, lavar a louça _ vide fim de tudo presente nas coisas ou acontecimentos _, mas o que sucederá depois da resposta, do contentamento, não será necessariamente outra dúvida, outras buscas e etc... Pois a vida de tão cruel destrói qualquer deleite permanente, o dever se impõe a nós como uma norma, um faça! Onde não adianta simplesmente alimentar dúvidas pontuais, onde muito provavelmente será destruída e destruída... O que irá permanecer em tudo isso, não é o romântico do conhecer, a maiêutica em uma autoanálise ou em um debate _ vide dialética _, é o dever acima do dever dado como mais perto e visível, será a coragem do indivíduo em persistir, será sua busca mais essencial, a busca... Pois o que temos hoje é o ir a filosofia que está em busca, o exercício do filosofar e como todo exercício, é necessário a persistência, o dever dado ao próprio indivíduo _ vide o irredutível _ ou como espectro mais elevado da natureza humana _ vide filosofia clássica _ ou trazido a ele a tona, então nos resta a pergunta, qual a melhor forma de trazer a tona no indivíduo a busca pelo conhecimento? Poderei responder de duas formas, ou balanceando as duas instâncias, princípios ou pulsões, propiciando um ambiente sociofamiliar também balanceado (lembrando que não sabemos os extremos _ vide doente e saudável, louco e normal), acrescentando também no currículo a tragédia grega, ou simplesmente deixando a criança livre em casa, e insisto em salientar, a busca pelo conhecimento apenas se dará através da prática enquanto real, o dever, o faço apenas porque devo, faço, pois o posso _ vide a diferença entre gozo e desejo _.
Criado: 23/11/2020