Um jardim para mim
Eu sinto que tenho a constante necessidade de transbordar, ao mesmo tempo que faço de tudo para impedir
que eu transborde. Tem coisas que ficam melhores quando retidas, e nem sempre dá pra escolher o que sai e o que fica.
Isso porque, mesmo dividido, sou uma peça só, e toda confusão que eu alimento é a que vem de fora.
Por isso, horas penso que reter tanta coisa para mim é um desperdício, enquanto outras vezes penso que é apenas
a coisa óbvia a se fazer. Quem decide a serventia daquilo que me preenche não sou apenas eu, e para mim, só me resta saber
quem eu sou.
Saber que mais do que uma única planta, eu sou um jardim.
Talvez você encontre o que procura ao adentrá-lo, ou talvez
você se contente em ver de fora.
Nem todas as estações trarão flores, e no inverno,
ele pode parecer inteiro pronto para morrer.
Justamente por isso, pegue as flores que gostar,
as folhas que precisar, e fique o tempo que quiser.
Nenhum jardim é eterno, e no próximo solstício,
eu posso simplesmente desaparecer,
tendo cada pequena flor lançada ao vento,
para que longe do meu fim,
encontrem seus lugares em outros quintais.