Os ídolos: nem de "barro" nem de "ouro" [10/09/2021]

Os ídolos: nem de "barro" nem de "ouro"

Por Álvaro Vinícius de S. Silva

Data: 10/09/2021

Segundo as escrituras, no Antigo Testamento, Moisés desceu do monte com as tábuas da Lei, com aquilo que, por dado ângulo de interpretação menos literal, representava não somente a "verdadeira" instrução para o seu povo, mas as "sombras" das coisas futuras -- Hebreus 10:1 --, que, naquele momento, reluziam em uma cosmovisão obscurecida pela mais obsessiva idolatria, já que não conseguiram esperar pelo entendimento que vinha do alto da montanha, e preferiram assim moldar uma criatura para que ela estivesse à "imagem e semelhança" dos seus caprichos.

No mundo atual, repleto de indagações aparentemente céticas, várias situações do cotidiano se expressam por meio de manifestações culturais e sociais que reproduzem a impulsiva adesão a movimentos ideológicos ou a tendências coletivas de imediata resposta, as quais não assumem, necessariamente, razões especificamente claras e devidamente refletidas pela consciência de cada um. Enquanto alguns acreditam que possuem a certeza de que estão em um dever cívico de "libertação" nacional, capaz de livrar o país de todas os problemas sociais que o acometem, outros repetem o nome do Criador para tornar demonstrável a exaltação de um pertencimento religioso diante dos homens, ainda que, nos evangelhos, encontre-se a passagem a qual diz que não é aquele que simplesmente profere "Senhor" que entrará no Reino dos Céus, mas "aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus." (Mt 7:21).

Por fim, se no livro de Êxodo, houve a edificação de um altar para um "bezerro de ouro", um ídolo para que servisse aos anseios de um povo que, mesmo liberto do Egito, sem as amarras da servidão, continuava a ter a mesma dura cerviz, a consciência dos loquazes que, atualmente, clamam por liberdade, por um novo país ou até mesmo por um novo mundo, não se demonstra livre de equívocos históricos e da cauterizada percepção que permite a formação de "ídolos", "deuses" ou "demônios" que os guiem em tumultuado movimento. Todavia, se na história houve ídolos de "ouro" ou de "barro", no presente tempo eles não precisam ter uma matéria-prima real, pois a virtualidade contemporânea fornece um eficiente ilusionismo sobre a realidade, à semelhança de um imaginário artificialmente moldável.

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Álvaro Vinícius de Souza Silva
Enviado por Álvaro Vinícius de Souza Silva em 10/09/2021
Reeditado em 10/09/2021
Código do texto: T7339156
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