Em memória a La Rochefoucauld
Sinto como se estivesse indisposto de tanto viver, sento-me em uma poltrona ao soprar do vento da manhã através da janela de madeira, em uma casa estilo imperial e sobre os quadros olho-me, perpasso como ouro fino que compõem a moldura dos quadros, e aço das esculturas, Nietzsche, Schopenhauer e Freud, e as de mármore, Parmênides, Heráclito, Platão, Aristóteles e Hermes, pergunto-me qual delas tangencia a verdade ou se elas me dão o componente vetorial do meu complexo campo e aparentemente infindável. Sinto-me vivo para mim, distraído em imagens fenomênicas, cuja as leis não se fazem nítidas, mesmo minha visualização espacial sendo invejável e minha memória prodígia e não sou suficientemente ousado a compor uma sinfonia tão bela como as de Mozart, Beethoven e Haydn, o pai, o que (Beethoven como seu pupilo) fez Beethoven deus com suas harmonias, és grandioso, não, também não escreverei um poema de igual potência em complexidade em todos os sentidos como a tabacaria de Pessoa, não, não há mais nada de tão importante que surpreenda os deuses e que esplendidamente surpreenda o ser de cada um desses semideuses, heróis. Minha magnificência é medíocre, meu vocabulário reles, meu foco insuficiente, minha voz, não, nem conta e meu violão, pobre amigo... Não, não digo isto amargamente, e nem sorrindo, digo isto de forma libertadora, a forma correta de encarar gigantes e se deparar com o medíocre. Sabendo como sei que sou ao mesmo tempo que não tenho para mim, em um íntimo constante, nada do que digo, sei que penso em devaneios de imagens e cenas e sei que simples diálogos me irritam, me assemelho a uma criança também em exigências e críticas, mas é porque cresci de mais em minoridade e fiz de mim um menor entre os maiores, fiz de mim um Hermes, fiz de mim um que muito sabe em tão pouco e densamente sutis assuntos, que me assemelho a uma criança balbuciando ou chamando a atenção, mas é porque estas caligrafias não são tão rápidas. Uma vez ou mais me questionaram com o olhar o presente espaço no qual se encontra meu corpo, respondi, poderia ter muito mais, mas sou pequeno de mais, se fosse um pouco maior... Não entenderam os ditos metafóricos em euforia de discursos convencidos, personas e logo assumi a possibilidade de ser grande, mas me parecia ser muito caro o preço, era simplesmente um sim. Uma vez me disseram, não diretamente, que minto, olhei pensando, pensei mais um pouco e respondi, tens razão, ela saiu contente. Ao me perguntarem sobre a existência de Deus eu respondi, não me considero a altura para responder e eles retrucaram, mas der sua opinião, eu já irritado disse, SOU DEUS! Eles riram e me deixaram em paz, serviu. Uma coordenadora com olhos brilhantes me admirava, ela tentava me colocar para pesquisar, simplesmente fugi. Os que creram em mim eu desmenti, os que não creram os provei que estavam certos. Mas nem tudo são flores, humilhei? Já, pouquíssimas vezes, mas como tudo que faço, dei meu melhor. Uma vez me falaram que viajar é bom para escritores, logo pedi perdão a Pessoa e respondi, tens razão, para os medíocres. Já me disseram que me contradigo muito e eu respondi, pelo menos não cobro dízimo. Sim, eu sou uma lâmina afiada, mas é porque fui bem treinado, diria que eu nasci no século errado, mas em minha imaginação vejo salões lotados com cavaleiros e damas dançando suavemente ao fluir da melodia com suas belas indumentárias, há boa música, sim, quarteto de cordas. Já me falaram que eu tinha um rei na barriga, toquei-a e não senti nada, o susto passou. Também me falaram que eu era um príncipe, fiquei lisonjeado e disse, não, não disse nada, não sou Beethoven. Sinto-me aliviado ao escrever estes versos e saber que minha sabedoria está em ser eu, o problema é que ainda não sei quem sou. Fiz destes versos vislumbres da sagacidade de um lobo e da imaginação de um poeta menor e um pensador copista como já me acusaram, mas ao menos faço destes versos regalo para que deleitem-se em vossas grandiosidades.