Paralisados pelo depois
Muitos esperam a velhice chegar, os dias finais se aproximarem, para então não temerem a vida. Costumo acreditar que as pessoas sentem mais medo da vida do que da morte, possuem mais receio em viver do que morrer, embora digam o contrário. Deixam de realizar sonhos, de desfrutarem aventuras, de declararem palavras por puro medo do que poderá acontecer depois de passos tão importantes. Sentem medo da maneira como serão vistos, sentem medo dos olhares que terão que suportar, sentem medo das opiniões que precisarão ouvir. Parece que as pessoas vivem em função do depois, fazem escolhas que depois não trarão consequências tão intensas, e desperdiçam o agora do qual dispõem para construírem uma vida satisfatória. Mas sabe de uma coisa? Nenhum de nós tem o poder de descobrir o futuro. Só há uma maneira de saber o que há do outro lado da parede: atravessando-a. Só há uma forma de descobrir como será depois de termos escolhido uma vida autêntica ao invés de uma vida encenada: fazendo essa importante escolha.
E muitos esperam os dias finais se aproximarem para então fazerem o que sempre desejaram, mas nunca tiveram coragem, porque junto da finitude da vida vem a certeza de que não haverá tempo para o depois. Esse obstáculo tão grande que nos paralisa deixará de existir, de fazer sentido, porque tudo o que nos resta é o pouquinho do agora que desde sempre desperdiçamos. Já não precisaremos mais nos preocupar com as opiniões, com os olhares, com as repercussões, porque não teremos tempo o bastante para sermos atingidos por todas essas reações. É uma pena que temamos o depois que idealizamos e jogamos fora o agora concreto que pousa sobre as nossas mãos.
É uma pena que tenhamos que esperar a velhice chegar para então pouco nos importarmos com o que os outros vão pensar. É uma pena que os anos tenham que avançar tanto para que, enfim, tenhamos coragem o bastante para sair na rua de pijamas indo na contramão das exigências de um mundo que nos obriga aos padrões e às convenções esperando de nós que nos cubramos com tecidos finos e sapatos lustrados. É uma pena que, como pontuou um poeta, tenhamos que esperar a morte para então nos permitirmos deitar de sapatos.
De que importam as opiniões e reprovações? Temos que ser nós os nossos principais aprovadores. Só uma opinião importa: a nossa própria. Se algo nos fará felizes, porque não tentar? Mesmo que dê errado, mesmo que não saia como esperávamos, ao menos nunca viveremos na incerteza do que poderíamos ter conquistado nessa vida que se vive apenas uma vez. Saia de pijamas, deite de sapatos, deixe o depois para depois ou, melhor ainda, faça o depois acontecer agora!
(Texto de @Amilton.Jnior)