ATRAVESSAMENTOS
A construção de quem somos é constante e cada pessoa que atravessa nossos caminhos -que são vários, durante toda a vida- participa dessa construção de alguma forma. Mas existem pessoas que nos marcam profundamente, por mais breve que sejam esses atravessamentos. Não há como prever de que forma isso acontecerá, nem quais pessoas deixarão marcas e, na maioria das vezes, só percebemos quando o atravessamento se transforma em ausência. Foi exatamente assim que aconteceu comigo. Você entrou em minha vida do nada, foi um atravessamento aleatório, desses que nem a energia do universo prevê ou conspira. Totalmente ímpares, sem qualquer ponto em comum, nada a favor, tudo contra. Mas aquela parte do caminho se acendeu e iluminou tudo ao redor, inclusive meu coração que estava bem fechado. As pessoas tendem a descrever um amor intenso como “se nada mais importasse”, mas foi exatamente ao contrário. Tudo passou a importar mais. Viver bem, estar com as pessoas que eu gostava, participar de momentos incríveis, me sentir realizada. Não era só sobre mim, mas sobre fazer esse amor chegar a outras pessoas também. Muitas vezes o amor parece que não cabe no peito e, realmente, é necessário transbordar. Então você participou da construção de quem sou hoje e não só acrescentou coisas novas, como remendou coisas que já estavam um tanto quanto desgastadas. Infelizmente foi breve a sua permanência. Quando dei por mim, você já era ausência e eu só conseguia sentir sua falta. Doeu tanto que entrei em desespero e toda a luz se transformou em trevas. Já não conseguia transbordar, apenas me encolher dentro de mim. Demorei para me reencontrar, para refazer essa conexão perfeita comigo mesma. Precisei entrar em um novo caminho, com novos atravessamentos e foi incrível perceber que era possível florescer outra vez. Hoje ainda dói um pouco a marca que você deixou, mas sigo firme no propósito de não deixar que vire ferida, me cuidando e curando. Aprendi tanto, vivi tanto em tão pouco tempo e sou grata por esse atravessamento. Voltei a me importar com tudo, mesmo que às vezes sinta uma pontinha de medo de tudo desmoronar.