Minha Terapeuta Tartaruga
Quando aqui ela chegou, há pelo menos 25 anos, ganhou um aquário com rampa e pedrinhas coloridas que na primeira higienização quebrou-se. Foi então transferida para uma velha bacia plástica de lavar roupa até a chegada do novo aquário que nunca chegou. Concentrando o tempo, ela deve ter se alimentado por dez anos, porque durante os outros quinze ela esteve esquecida num canto da casa. Mas como ela não têm pressa nem para morrer, depois de longos períodos, a gente sempre chega com o alimento antes que ela alcance a morte ou vice-versa.
Às vezes sinto vergonha da nossa tartaruga, quando me encontro entediado, deprimido, achando que a vida não faz sentido, logo eu que tenho tanto espaço, tanta liberdade, tantas atividades, tão diversificada, regular e abundante alimentação e tantas possibilidades diante dela confinada em uma velha bacia, depositada e esquecida em cima de uma pedra e se comportando como tal. Mas ela se agarra à vida, porque parece que a ela basta viver. Diante destas reflexões, elevo meus pensamentos, saio do meu estado depressivo e chego ao elevado estado de consciência e gratidão pela vida. A vida é tão exuberante, tão fascinante e rara no universo que deveria nos bastar.
Quando estou pra baixo, penso na nossa tartaruga, minha querida e eterna terapeuta. Por falar nisso, tenho que alimentá-la...
O Assombro da Vida
A vida é a exuberância evolutiva
A transmutação da energia solar
Mas o que importa é que se viva
Que ela em si deveria nos bastar
Um fenômeno ímpar da natureza
Processo há bilhões de anos ativo
Deve-se contemplar-lhe a beleza
Celebrar o privilégio de estar vivo
Diversos são os nomes do criador
Que levam fiéis à crença dividida
Surge em pensamento revelador
Sem nome no assombro da vida.