O que eu quero OUVIR no meu pior momento?
Eu sei como sou, todas as palavras saem por mim com a mesma facilidade que chegaram.
Não que o conforto seja ruim… Eu só não sei parar e ouvi-los, só quero que todo esse problema desapareça, mas vocês não podem fazer isso por mim.
Será que se eu falar, alguma coisa se resolve? Por que resolveria? Nunca foi assim. “Que idiota eu sou de soltar isso”.
Mas e se não falar nada? Guardar tão fundo até enganar a mim mesmo… Não é fazer EXATAMENTE isso que me incomoda?
A confusão aqui dentro... Eu tento fugir, mas ela sempre sabe onde quero ir, onde se mostrar presente, esfregando na minha cara tudo que odeio no mundo e em mim.
Tudo que eu quero que vá embora, agora se reflete em meus olhos, não sei mais passar pelo espelho sem lembrar disso.
O que é isso? Esse pensamento que me cerca, essa sensação desesperadora, esse nó na garganta, essa respiração, essa angústia…
Não pode ser assim! Eu aguento tanto, espero tanto, imploro apenas por ser quem sou?
Isso não pode estar certo, EU não posso estar!
Eu sempre tento ser grato, mas eu ainda estou VIVO! Eu quero sentir muito mais!
Tento agradecer até onde cheguei, mas eu ainda nem comecei, e já me sinto cansado, muito cansado… Então vai ser assim daqui para frente?
Eu quero sentir a vida, mas estou preso dentro de mim.
Dentro desse corpo, que mostra tudo que não me agrada; dentro desse pensamento, que fala tudo que não quero ouvir; dentro dessa vida, onde vivo…
Transparente. Cego. Exausto.
Eu grito, é para ter certeza de que não estou sozinho, e cada eco amigável é como uma luz atravessando minha transparência. Mas essa luz é temporária, externa, ela é esperança, não solução.
Eu quero é que tudo se resolva logo, não ter forças para suportar mais e mais.
Nem que eu grite todos os dias, nem que toda a luz da humanidade me atravesse de uma vez. De qualquer forma… Ela só irá me cegar ainda mais antes que eu veja alguma claridade.
Eu sou transparente, mas estou descobrindo que não preciso ser.
De vez em quando posso até sentir… Uma faísca que se solta ao vento, de onde ela vem? Vejo ela voar tão lentamente e tão diferente de tudo dentro de mim, que nem parece eu, nem parece o que sou.
Mas o que sou, precisa ser eternamente assim?
Essa faísca que vi agora pouco sair de mim, não é a prova de algo escondido aqui dentro que encontra uma maneira de se libertar para fora? Atravessando toda essa matéria densa e desagradável que a impede de respirar?
Eu não sou transparente, eu sou luz! Envolto nesse corpo grosseiro que não a deixa voar, calado pela altura estrondosa desse meu pensamento, que fala e fala... Sem cansar, sem limite.
Olha só, toda essa gritaria apenas para me impedir de ver quem realmente sou.
Dessa faísca que se sacrifica para sair, é difícil também de alguma conseguir entrar.
Coitada dela, que ousa atravessar essa matéria suja, se contorcendo da mesma forma que a minha, apenas para tentar tocá-la por um instante...
O que todos procuram é tudo o mesmo, uma luz externa, que se sacrifica para não ser refletida pelo escudo que cria inconscientemente em seu redor. Muito fraca, nem sente o efeito; muito forte, não consegue ver nada. O tanto exato? Eu me sinto cansado só de pensar nisso...
Eu preciso é parar de depender que essa luz externa me alcance para me sentir bem.
Preciso ver o que existe em mim, eu sei que existe, eu posso sentir agora, mas ainda não me chega aos olhos, é isso o que realmente me perturba agora...
Que mal todo é esse que vejo e não me deixa enxergar? Que voz toda é essa que não deixa eu me ouvir? Verdadeiramente me ouvir...
Pois eu não sou isso que meu pensamento me diz, não sou o que vejo no espelho, não sou o que tento mostrar, nem o que eu deixo os outros verem.
Eu vejo a minha luz? Deixe-me tentar mais uma vez…
Sim! Estou conseguindo ver! Isso eu não posso mais negar, agora eu vejo.
Mas aqui está o que me fere também, eu criei um muro em seu redor, eu preciso é criar um farol para que ela vá. Simplesmente vá. Por favor... Apenas vá!
Eu não aguento mais te prender, então é melhor assim, onde quer que vá parar.
Voe mais brilhante do que jamais foi, eu não te prendo mais.
Não quero mais ter medo de te soltar, não quero forçar minha visão para tentar te ver aqui dentro, eu quero ser você, quero amar ser você.
Então é disso que eu estou indo atrás loucamente? É esse o motivo de toda minha dor? Agora eu sei.
Me libertando, o que eu odeio por esconder quem sou deixa de ter toda essa importância, pois eu parei de dar a força para meu corpo me bloquear, para meu pensamento me controlar...
Agora eu sei, o que eu sempre via e não suportava é apenas um instrumento. Um instrumento para eu me encontrar, um instrumento para me libertar, um instrumento para eu soltar minha luz ao mundo, não prendê-la, e agora eu amo isso!
Não! Prender minha luz nunca mais!
Pois o que me prendia era minha mente limitada, que via um único ponto no infinito, não pude ver o rastro que deixei para trás, nem tudo que ainda posso expandir, eu
posso expandir para sempre! Que presente incrivelmente belo esse que encontrei.
Que essa luz possa achar outras, tão puras quanto a que descobri em mim, eu estou louco para conhecer tudo de novo. E caso ela não veja nada igual... Que ela atravesse por essa matéria grosseira, e mostre um lugar por onde sua luz também possa ver o lado de fora, só por um instante.
Agora eu deixo, aprendendo a apreciar a beleza que crio a todo instante, pois agora eu sei que posso ser livre, e eu não tenho mais medo do que posso causar.
Essa luz me ama, e nunca desiste de se provar a mim, o mínimo que posso fazer é o mesmo por ela, pela nossa existência!