Marcas da Vida

Muito se fala sobre a vida ser um maravilhoso livro cheio de páginas em branco para que possamos escrever nelas a nossa própria história. E o mais incrível de pensar por esse viés é que quando o capítulo que estamos vivendo não está muito bom, não corresponde exatamente às nossas vontades e aos nossos desejos, nós podemos simplesmente virar a página e começar um capítulo inteiramente novo, cheio de potenciais reviravoltas que mudariam definitivamente o nosso destino. Chega a parecer mágico. Vire a página e comece tudo outra vez! Mas não é bem assim. Certa vez ouvi que quando escrevemos em nosso caderno, por exemplo, a página seguinte estará cheia de marcas sobre as quais escreveremos. Às vezes não percebemos. Mas com um pouco mais de atenção, somos capazes de visualizar e até mesmo sentir essas marcas das escritas passadas. O mesmo serve para a vida. Ela não é mágica. Ela é real e, no nosso caso, completamente humana. As coisas não acontecerão a partir de palavras de efeito. O passado vai ecoar no futuro. As marcas dos capítulos passados estarão nos capítulos posteriores.

E quando assumimos isso para nós mesmos, quando entendemos que não é simplesmente virar a página e de repente tudo será novo como aquele caderno que vamos usar no primeiro dia de aula, a mudança, a transformação e o progresso ficam mais fáceis, mais visíveis, tornam-se mais possíveis. Virar a página não nos salvará do nosso passado. Mas nos permitirá que em cima desse passado construamos um novo futuro.

As marcas se farão presentes. Em alguns momentos nos trarão medos, inseguranças, nos farão desanimar por se assemelharem com aquilo que estamos prestes a viver. Mas o que precisamos fazer é aprender a olhar para essas marcas como formas de lição, de aprendizado. Elas não precisam se repetir. Quando viramos a página do caderno escrevemos novas palavras sobre as marcas das palavras escritas. Não repetimos as mesmas frases e sentenças, criamos um texto completamente novo. Faça isso com a vida. Não repita os erros. Não chore as mesmas lágrimas. Não se intimide pelos mesmos medos. Nem se iluda pelas mesmas aparências. As marcas estão aí exatamente para lhe trazer instrução: não repita em seu futuro aquilo que o impulsiona a fugir de seu passado.

E fugir do próprio passado não é a melhor das ideias. Nem a mais inteligente. Como vamos fugir de algo que nos pertence? Que ajudou a construir quem somos? Só poderíamos fugir do nosso passado se pudéssemos fugir da nossa própria vida e entrarmos numa inteiramente nova. Então não corra do que foi. Do que aconteceu. Do que você viveu. Apenas pegue tudo isso e aprenda com cada vivência, com cada experiência. As boas memórias estão aí para nos fazer sorrir. E as tristes recordações existem para nos mostrar que erramos em algumas escolhas, mas que fomos fortes o bastante para depois da queda nos levantarmos. A gente só precisa olhar para o passado sem medo, com coragem para tirar dele as grandes lições do viver.

Então vire a página. Comece um novo capítulo. Não se intimide quando medos antigos aparecerem. Um capítulo novo não é uma história nova. Mas é a oportunidade para mudar os rumos da sua própria história e se aproximar cada vez mais de um final feliz. Nessa de querermos nos libertar das marcas que foram colocadas em nós, podemos acabar nos perdendo de marcas deixadas por pessoas especiais, por amores queridos, por momentos apaixonantes. Não vale a pena por causa de algumas tristezas ignorar todas as alegrias, não é verdade? Então siga em frente. Deixe novas marcas. Mais felizes. Mais assertivas. Mais condizentes com a sua essência!

(Texto de @Amilton.Jnior)