O amor não me aceita. Mas, não desiste de mim. Canalha.

Não nasci para você. Somos incompatíveis. Você quer abnegação, entrega, exclusividade. Pede controle e sente-se ameaçado quando eu, mesmo lhe jurando afeto, inclino-me em outra direção. Eu e você somos duas mentiras que insistem numa verdade sem amparo nos termos de um contrato assinado à lápis. Somos ineficientes neste jogo de implícitas juras. Eu não te quero. Você se esforça para acreditar que me deseja. Eu e você nascemos de bocetas muito diferentes. A que te pariu é cheirosa, cândida e impávida. A minha, prostituta e dissimulada. E, cheira à velhacaria.

E apesar de tudo, eis que cedo às suas exigências e fico me fazendo de rogado diante dos seus infantis ditames. Aqueles que só sossegam quando as tripas estão cheias de promessas vazias e exaustas de peristaltar a realidade.

Você não me aceita, mas doentiamente não para de me punhetar. Eu, tampouco te quero mas, mais doentiamente ainda, continuo a gozar.

MementoMori
Enviado por MementoMori em 11/08/2021
Reeditado em 11/08/2021
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