Não seja mesquinho
Assistindo à serie Doutor House (uma das minhas prediletas) em dado episódio um personagem levou a todos à reflexão. Ele, sendo judeu, foi confrontado sobre como se casara com alguém que vira apenas três vezes, que era impossível amá-la o bastante para um passo tão importante. Sua resposta foi perguntar ao interlocutor a quanto tempo ele estava casado e o quanto amava a pessoa com quem se casara, este último respondeu que há mais de vinte anos e que amava sua esposa como quando tudo começou. O judeu, então, surpreendeu, disse que era estranho porque ele deveria amar muito mais pelos anos que se passaram.
Deveria ser assim também na vida real? Talvez o meu pensamento seja romântico demais, talvez você o considere ultrapassado, mas eu acredito que essa fala tão especial deveria ecoar em nossas vidas: deveríamos amar muito mais aqueles com os quais estamos, porque cada dia é uma experiência que compartilhamos, cada dia deveria servir como um passo a mais na nossa aproximação, cada dia deveria fortalecer os laços que nos uniram, permitir-nos que conhecêssemos um ao outro mais intimamente resultando num amor mais solidificado e consistente. Hoje o amor é trivial porque as pessoas o tratam como se fosse as outras coisas corriqueiras da vida, como um celular que compramos hoje e amanhã já tem uma nova geração que passamos a cobiçar. Mal fizemos uso da nossa nova aquisição e já estamos de olho na que podemos vir a ter. Não deveríamos trazer esse comportamento consumista e imediatista para as nossas vidas. Em relação a certas coisas não deveríamos poupar esforços na hora de manter duradouro.
Acho enriquecedor construir uma vida com alguém, uma história, um futuro. E acho que todos deveriam procurar por isso em suas vidas. Deixar de lado essa indiferença ao que realmente importa e passar a valorizar o que de fato significa algo. Imagine ter uma vida compartilhada com alguém, sobre a qual lá na frente vocês poderiam refletir se divertindo e se emocionando pelos tantos momentos que foram vividos. Não seria prazeroso? Mas as pessoas se perdem em suas mesquinharias. Hoje tudo é personalizado. Posso fazer uma encomenda querendo uma capinha para o meu celular com o meu rosto estampado. Quando comprar meu celular, posso configurá-lo ao meu exclusivo gosto, deixá-lo com a minha aparência para que sempre que eu o tiver em minhas mãos, esteja olhando para mim e minha essência. O problema é quando quero trazer isso para a vida real e fazer as pessoas serem o meu reflexo. Comportarem-se como eu me comporto, pensarem como eu penso, posicionarem-se como eu me posiciono. Isso é ser mesquinho. E muitos fazem isso em suas relações. Românticas, de amizade e até mesmo familiares. Se pudessem fariam do outro uma marionete que controlariam incansavelmente. Tudo para alisar seus egos enfraquecidos e seus egoísmos ressentidos. Tudo para serem vistos como importantes e exemplares. Tudo por uma paranoia que os impulsiona a se sentirem como divinamente especiais.
Mas não é assim. Não pode ser assim. Quando estamos nos relacionando com pessoas estamos nos relacionando com mundos, universos, completamente diferentes dos nossos. Podemos ser irmãos, gêmeos se for para ficar mais impactante, ainda assim teremos gostos distintos, preferências exclusivas, formas diferentes de estar e vivenciar o mundo. É isso o que precisamos aprender. É assim que vamos conseguir fazer aquele sentimento do começo aumentar de proporção quanto mais o tempo passar: interessando-nos pelas descobertas que podemos fazer no outro mundo, permitindo-nos aos encantos dos quais poderemos desfrutar no outro universo. Não seja mesquinho. Não seja paranoico se considerando superior, uma verdadeira beldade. Todos somos únicos. Todos temos algo a oferecer ao mundo. Todos podemos ensinar algo uns aos outros. Todos podemos contribuir para o crescimento daquele sentimento que nasceu. Lute por manter vivo aquilo que realmente importa nessa vida tão passageira e efêmera.
(Texto de @Amilton.Jnior)