O INTERIOR O EXTERIOR E A VERDADE - 2021
Enquanto cada perspectiva humana é uma visão subjetiva da verdade e da realidade, derivada de uma posição singular, os institutos, seja o sistema religioso, político, econômico e educacional, acreditam defender uma verdade ou perspectiva objetiva. Se assim fosse, todos eles teriam o mesmo ponto de vista. Mas, entre a perspectiva e a realidade reside a subjetividade.
O mistério da consciência, como a última fronteira para o entendimento humano, assemelha-se mais a um problema prático do que a questão da qualidade alheia como uma essência. Antes de pensar no problema das características subjetivas das experiências mentais conscientes, devemos primeiro abordar a mais fundamental de todas as perguntas que revelaria o significado de nossa própria existência, “Quem sou eu”. Mas não há perspectiva sobre alcançarmos o autoconhecimento, apesar de o nosso cérebro ser capaz de confrontar os conceitos como o zero e o infinito. O “Eu” não é a ilusão de uma entidade indivisível, consistindo de muitas características próprias que podem ser analisadas individualmente.
A qualidade indescritível das nossas impressões, não pode ser transmitida, entendida e experimentada por ser um problema que não corresponde à realidade. Pois a consciência e os acontecimentos corpóreos podem ser os dois lados de um objeto que parece completamente diferente da nossa apreciação, mas que na realidade são uma única superfície.
Frequentemente, apreciamos a nossa própria percepção das coisas ou eventos como objetivamente corretos, e classificamos a percepção dos outros como incorreta. Porém, não devemos deixar a subjetividade que sentimos de ver as coisas apenas através da nossa própria perspectiva ser a base pela qual julgamos o mérito de outras pessoas e de cada experiência. A nossa realidade não é a realidade, pois é subjetiva por estar relacionada com a nossa percepção pessoal.
A nossa experiência é alterada por nossa percepção e perspectiva. Contudo, quando experimentamos algo, não podemos descrevê-lo sem antes se ausentar daquilo e transformá-lo num objeto de reflexão, para complementar o sentido da situação com um significado ou compreensão imediata antes de verbalizarmos o que sentimos. Pois a distância entre ver e parecer é a consciência de que há sempre uma diferença entre percepção e realidade, e só podemos usar essa diferença assimilando-a para aceitá-la.
A percepção, como um confronto entre um condutor de realidade externa orientado para o interior e um transmissor de realidade externa, que nos motiva a tomar consciência de uma realidade física, é um conflito dinâmico entre as tentativas de um mundo exterior nos impor uma atualidade e o nosso empenho para transformar essa inovação numa perspectiva egocentrada. Mesmo que não apreciemos uma situação, para o nosso próprio crescimento, precisamos conhecê-la melhor. A verdade é permanente, a realidade é efêmera.
Uma exaustiva verificação dos acontecimentos políticos em nossa nação nos leva a conclusões inegáveis de que a verdade não tem nenhuma influência sobre alguns de nossos dirigentes avessos à realidade latente dessa inusitada crise de saúde, neutros em relação à veracidade das consequências funestas dos malfeitos, apesar de revestidos na incumbência em produzir nossos interesses e manter a nossa segurança social.
Deduzindo do encaminhamento parcialmente improdutivo e incerto da investigação senatorial ora em curso, torna-se óbvio que o conceito de verdade declinou claramente em tempos difíceis, e as consequências da sua rejeição estão a devastar a nossa sociedade. Não é meramente um embate cultural pela aplicação da verdade, ou uma questão política. Mas, essencialmente, uma batalha para reconhecer que a própria verdade existe.
A despeito de mais de meio milhão de pessoas terem padecido durante a pandemia, e a vida de centenas de milhares sofrerem transformações frequentemente irreparáveis, ninguém quer ser enganado com uma resposta falsa à crise de saúde, para uma necessidade premente que tem consequências no mundo real, na vida de todos, enquanto tais enganos invadem a nossa percepção cultural, ao ponto de a frase “A minha verdade” e "A tua verdade” ser comumente aceita como uma resposta correta. Mas o que ocorre quando “a minha verdade” colide com "a sua verdade"?