Amor pela ignorância

Eu, de certo modo, amo a ignorância! Aprendi a amá-la pois jamais poderei me separar dela. Muito pelo contrário, mesmo que eu morra aos 100 anos de idade, o volume do meu saber em relação a minha ignorância, será uma grande tirada de légua.

Mas existe algo que eu amo ainda mais! Eu amo ter a ombridade de reconhecer a minha própria ignorância. Já dizia Platão ao citar Sócrates: "Sábio é aquele que conhece os limites da própria ignorância".

E essa sabedoria a que Sócrates se refere, nada mais é do que humildade. Humildade de reconhecer que jamais o mundo caberá na cabeça do ser humano. Não importa o tamanho do seu cérebro ou o tempo do seu aprendizado. E é somente a partir do reconhecimento da ignorância, que torna-se possível alçarmo-nos sobre o saber, mesmo que por pouco. Pois, se eu sei que não sei de nada, já passo a saber mais do que alguém que pensa saber de tudo, e que de fato, não sabe de nada. Essa é também, mais uma conclusão de Platão. E é esse um dos motivos de eu amar a ignorância, em certo aspecto. Pois, sendo impossível estar para aquém dela de forma absoluta, resta-me tentar enxergar em seu "ser", algum brilho. E o brilho da ignorância está na sabedoria. Só é possível vir a saber aquilo que não se sabe. Logo, só é possível saber ou vir a saber, se houver ignorância. Sendo a própria o estado que antecede qualquer conhecimento, e sendo também condição inseparável para a sabedoria. É preciso antes ignorar para conhecer, pois conhecer é movimento. Conhecer é transitar entre saber e não saber.

Contudo, apesar de eu amar a ignorância, por ser inseparável da sabedoria, e por ser impossível escapar dela por completo, eu não refém dela. Eu não amo ser escravo das circunstâncias. Mesmo sabendo que é impossível livrar-me por completo do não saber, eu não me conformo em não saber. E é esse desejo de aprender que nos diferencia daqueles que simplesmente escolhem não saber, mesmo tendo poder e recursos para isso. Seja por arrogância ou desonestidade, aceitar ser refém da ignorância, sem nunca buscar movimento da sabedoria, não é sequer amar a ignorância, muito menos a sabedoria, é amar somente a si próprio, fechando-se no seu narcisismo, e por tanto, na sua aceitação do estado permanente de ignorância sobre aquilo que poderia ser aprendido.