Nostalgia
Lembro de tudo.
De todas as vezes que fomos nós
Apenas nós mesmos
Sem máscaras, sem vergonha,
Sem pudor, sem preocupações
Onde éramos apenas um grupo de jovens
Ébrios, entregues à música
Dançando desengonçados
Como piratas num navio saqueado
Vociferando, desgovernados
Como trens buscando trilhos
Apenas um grupo de jovens
Muitas vezes inconsequentes
Mas nunca irresponsáveis
Nos entregávamos aos nossos desejos
Nos dedicávamos às nossas amizades
Nos apoiávamos
Um no outro
E em nós mesmos
Onde sabíamos do que somos capazes
Do que seríamos
E do que sempre fomos capazes
Onde enxergar o peso
Enxugar a lágrima
Entoar o riso
Esticar as pernas
Esfregar os cabelos
E esquentar a alma
Eram rotinas corriqueiras
Das noites regadas a conhaque e palavrões
Das madrugadas regadas a suco e confissões
Dos abraços, beijos, toque
Do amor adolescente efervescente
Que constrói porém devasta
E reconstrói afeto adulto
Das brigas, desavenças
Egoísmo, descrença
Conflitos, ego em polvorosa
Pois nem tudo foi um mar de rosas
Espinhos seguem fincados
Porém, até deles eu cuido
Ah, se queres saber
Eu lembro, sim, de tudo
Como artesão que tece
Da mais nobre parte de árvore
Armário robusto de lei
E guarda, dentro de si
Todas essas recordações
Com o maior esmero que pode existir
Eu lembro, sim, de tudo.
Perdoe se eu esqueci de algo,
Talvez a nostalgia afete a memória.