Depois do Miguel eu morri
era o efeito que ele causava nas pessoas.
chegava com a risada alta, sempre contando a melhor história, ou a sua melhor mentira. apertava os olhos num sorriso e era nesse momento que era impossível não entregar o coração: Miguel sempre foi bom em ganhar pessoas, por mais que não soubesse como mantê-las.
gostava de tê-las na palma da mão, brincar com seus sentimentos e convencê-las a fazer as malas para uma viagem que ele sempre faria sozinho. conquistava tua segurança no momento que dizia as palavras com confiança, te fazendo acreditar em tudo que ele dizia.
mas um adendo: o próprio Miguel não acreditava, era imune a si mesmo.
conheci Miguel em meados de setembro do ano passado, quando a vida era confusa e eu tentava encontrar meu lugar no mundo. ele chegou como um furacão desordenado e mudou tudo de lugar por aqui. me apresentou suas manias, riu das minhas tão pontuais, encantou meus olhos para que eu visse todas suas cores.
mas no final Miguel era uma paleta de tonalidades de cinza.
Miguel me apresentou à minha comida preferida, mas depois me tirou a vontade de comer.
Miguel me fazia sonhar todas as noites com as histórias que iríamos escrever juntos, e hoje eu não consigo dormir.
Com ele minha risada era sempre alta e larga, agora não lembro qual foi a última vez que ri.
Miguel me deu a vida na minha quase morte, para depois me tirar a vontade de viver.