Uma só vida

Egoísmo não combina com relacionamento amoroso. Pelo menos no significado que uma relação amorosa carrega ele não tem espaço, não pode se intrometer, ninguém pode pensar em se permitir a deixá-lo entrar. Caso contrário, caso o egoísmo se faça presente, aquilo que era amor se transforma em decepção, aquilo que parecia tão verdadeiro, eterno e genuíno se apresenta como efêmero, cruel e frágil. Quando nos dispomos a amar alguém, quando nos dispomos a construir um futuro, escrever uma história com outra pessoa, precisamos ter em mente que não será mais a história de um ou a história do outro, mas será a história de ambos, será o futuro de ambos, de duas vidas se fará apenas uma.

O problema é que muitos se esquecem ou não se atentam quanto a isso. Parece que veem no outro apenas uma extensão de seus próprios desejos, de suas próprias aquisições, e não como alguém que também possui sonhos, que também possuía alguma idealização sobre aquele amor ao qual se dispôs a viver. Fato é que não conseguiremos atender a todas as nossas expectativas porque no ato da união duas vidas se transformam em uma. Isso quer dizer que algumas individualidades, que certas pessoalidades, deverão ficar para trás, para a vida solitária de antes, para que uma nova identidade surja entre aqueles que se uniram a uma vida em conjunto. Novos planos, novos projetos, novos sonhos. É tudo novo porque dois seres humanos decidiram por unir suas vidas fazendo com que surgisse uma nova.

Isso não quer dizer que um deverá controlar o outro ou saber exatamente o que se passa na cabeça do outro. Quer dizer apenas que uma vida em conjunto passou a existir. As decisões serão tomadas em conjunto, as escolhas serão feitas em conjunto, os esforços para esplêndidas conquistas serão feitos em conjunto. De nada adianta apenas um conquistar, apenas um se satisfazer, apenas um, de maneira egoísta e mesquinha, ter algo de bom na vida. O outro lado um dia vai cansar de ser apenas um coadjuvante na história que sempre se imaginou como protagonista dividindo o papel com aquele que ama. Concessões serão necessárias. Uma atenção melhor trabalhada também se mostrará bastante útil no sentido de um conseguir perceber como é que o outro está se sentindo dentro daquela vida a qual se entregaram. No começo tudo parece maravilhoso. E essa maravilha precisa ser mantida dia após a dia para que vençamos a nossa tendência de dominar e possamos compartilhar.

E também é claro que momentos de respiro se fazem necessários e são extremamente saudáveis. Tudo bem algum dia um sair com os amigos para assistir a um jogo do time preferido. Como também estará tudo certo que o outro resolva se encontrar com amigos de infância para uma tarde na praça. Cada um ainda terá a sua vida particular, essa vida só não pode ser mais importante do que a vida “conjunta”. A saída com os amigos não pode ser mais importante que o jantar do casal. O encontro da turma da faculdade não pode ser mais valioso do que aquele momento a dois que já a alguns dias não é desfrutado pela correria da vida. Percebe? Até que a união acontecesse cada um tinha as suas prioridades. Mas a partir do momento que se uniram as prioridades devem ser as mesmas. O amor deve ser mantido por ambos e não apenas por um só. Talvez esse seja um dos segredos para um relacionamento saudável, enriquecedor e (por que não?) duradouro.

(Texto de @Amilton.Jnior)