Chega de passar panos quentes
Uma queixa muito comum que vários filhos fazem é que os pais costumam ser muito duros e exigentes com eles enquanto mimam seus irmãos. Entretanto, se esses filhos se queixam a alguém de fora, é provável que essa pessoa vá usar a velha tática dos panos quentes, dando desculpas como: “É porque seus pais amam mais você, esperam mais de você, por isso pegam mais no seu pé”. No caso do filho queixoso ser o mais velho, ele com certeza ouvirá que isso ocorre porque ele é o primogênito, se bem que também pode acontecer de filhos do meio ou mais novos sofrerem mais pressão por parte dos pais.
Essas desculpas não servem de justificativa. Para um filho ou filha, é muito desagradável se sentir o tempo todo pressionado enquanto vê os pais deixarem os irmãos em paz. Tal situação é injusta. Coloquemo-nos no lugar desses filhos. Por acaso é agradável ser sempre exigido, sentir que é o que tem mais obrigações ao passo que os irmãos são mais livres? Se isso é amor, é uma maneira muito errada de expressá-lo e faz mais mal do que bem. Imaginemos uma empresa. Que tal nos colocarmos no lugar de um funcionário cujo superior está sempre em cima dele cobrando eficiência no trabalho mas não fazendo isso com os demais? Tal situação, aliás, configura assédio moral e o mesmo se aplica ao ambiente doméstico.
Um caso que serve para ilustrar bem como é injusto os pais cobrarem demais de um dos filhos é o de uma moça, que será chamada de Rosa Maria. Quando ela era criança, a hora do dever de casa era um verdadeiro tormento, pois os pais ficavam em cima, chegando ao ponto de ditar respostas e criticando-a por ter dificuldades em Matemática, chamando-a de tapada e lenta. Se ela se queixava, a mãe ameaçava bater nela e o pai, que a chamava muito de burra, justificava-se dizendo que era para o bem dela, para ela aprender. Grande desculpa que o pai dá, não? Dizer que chamar a filha de burra dói mais nele do que nela! Quanto à irmã de Rosa Maria, os pais sempre deixaram em paz e a moça se ressentia do fato dos pais cobrarem tanto dela e só exigirem dela que ajudasse nas tarefas domésticas ao passo que não mandavam a irmã arrumar a cama.
Analisando o caso citado acima, podemos passar panos quentes dizendo que os pais amavam mais Rosa Maria? Se eles viam isso como amor, deveriam avaliar melhor. Um amor que faz alguém se sentir sempre cobrado e pressionado prejudica. Sabemos bem que criar filhos não é fácil. O problema é que, se os filhos forem reclamar com os pais, muito dificilmente irão ouvi-los, recorrendo à chantagem emocional e pressão psicológica.
E, para quem usa a tática dos panos quentes, vai o recado: não adianta mais usar a desculpa de que os pais pressionam mais um filho porque ele é o mais amado. Ninguém se sente confortável com essa maneira estranha e doentia de demonstrar amor.
* nome trocado para proteger a privacidade.