Uma Página em Branco

Existe algo mais mágico que uma página em branco?

Se existir, desconheço.

Uma página em branco aceita toda e qualquer palavra que você queira colocar. Palavras de conforto, palavras ofensivas, palavras sem sentido.

Tudo a página em branco aceita.

Talvez agora você diria para mim que nesse caso, as palavras são as verdadeiras detentoras de magia. Que sem as palavras nenhuma mágica acontece, sem as palavras nenhuma página em branco deixa de ser uma página em branco.

Não está errado.

Veja.

As palavras também possuem poderes mágicos inimagináveis. As palavras são capazes de conceituar sentimentos complexos.

Isso é mágico.

Uma pessoa que domine as palavras é capaz de conquistar mundos. Como muitos já o fizeram.

Então, se as palavras são tão poderosas, qual o sentido de dar tanta importância em uma página em branco?

Uma página em branco se encontra sempre a espera de palavras. Uma página em branco é uma permissão para palavras exaltarem seus poderes.

Uma página em branco é sempre um convite. Um convite à escrever palavras que poderão servir de acalento para alguém, ou uma chamada de atenção à um determinado assunto, ou destilar seu ódio ou qualquer outro sentimento que você sinta necessidade de expressar graças à uma página em branco.

Entende.

Por mais poderosa que seja a palavra, ela ainda necessita de uma página em branco.

Mesmo as palavras faladas, por mais poderosas que possam ser, elas ainda podem ser esquecidas. Enquanto uma palavra em uma página em branco pode ser eternizada.

As palavras “eu te amo” podem ser eternizadas em uma página em branco.

Ou seja, as palavras usadas para expressar um sentimento complexo, escritas em uma página em branco torna esse sentimento imortal.

Está me acompanhando?!

Ao receber uma página outrora em branco, mas agora cheia de palavras, você recebe junto com essas palavras um convite para se aproximar do autor. Tendo contato com essa página, ao ler suas palavras, por um instante você pensa no que quem escreveu estava pensando, você sente o que àquela página que fora branca convidou o autor a escrever sobre.

Essa página em branco me convidou a escrever sobre a página em branco, durante esse momento, eu e você estamos pensando na página em branco, em tempos diferentes, em lugares diferentes, mas estamos pensando no mesmo. Nesse momento você recebeu um convite para entrar em uma parte da minha mente que fora convidada pela página em branco. Neste momento estamos conectados. E essa conexão acontece sempre que você ler essas palavras.

Concluindo, as palavras são ferramentas poderosíssimas usadas para conectar o escrito com o leitor, mas é a página outrora em branco que iniciou esse contato, a página outrora em branco que nos convidou. É lógico que como toda ferramenta, ela só atinge o seu potencial pleno em mãos de pessoas aptas.

Espero que eu tenha sido apto em conectar você que está lendo essas palavras à uma parte da minha mente. Espero que tenha sido capaz de lhe fazer pensar no que eu estava pensando no momento em que escrevia esse texto. Espero que você pense em uma baleia azul nesse momento, mas não uma baleia azul comum, nossa baleia azul tem um monóculo e está segurando em sua imensa barbatana uma xícara de chá, brindando à essa nossa conexão. E agora ela faz parte da sua vida, não esqueça de alimentá-la.

Ah, e fique à vontade em escolher o nome dela, não sei por quê pensei em Valdir, mas você quem escolhe.