O depois sempre existirá

Certa vez, Clarice Lispector expressou que “ainda bem que sempre existe outro dia. E outros sonhos. E outros risos. E outras pessoas. E outras coisas”. Podemos resumir dizendo que o depois sempre existirá. Por mais que ele pareça impossível quando estamos no ápice de nossa angústia. Por mais que ele pareça inalcançável quando nos sentimos sufocados pelas decepções que tivemos que enfrentar. Ele virá. Acontecerá. Uma história nova pode ser escrita e vivida.

Digo isso porque muitos, quando encaram o fim de alguma etapa de suas vidas, um fim para o qual não estavam preparados ou que jamais pensaram que pudesse ser um fato, deixam de acreditar em recomeços. Por exemplo, alguém desiludido no amor, derramando lágrimas incessantes, pode decidir que nunca mais acreditará nesse sentimento tão valioso e nobre, que nunca mais viverá algo semelhante, que jamais sofrerá pelo mesmo motivo. Mas ele se esquece de que as outras possibilidades, as experiências que poderão ser desfrutadas no futuro, com certeza serão diferentes e inovadoras, porque serão com outra pessoa, em outro momento, sendo ele mesmo alguém diferente, dotado do aprendizado de uma experiência nem tão bem-sucedida. Precisamos valorizar um pouco mais o que vem depois. Precisamos nos abrir com mais coragem para essa posteridade. Porque quando a página virar, estaremos mais fortes, mais sábios, teremos uma vantagem sabendo quais passos são duvidosos, quais escolhas são certeiras e quais atitudes precisamos reavaliar. Talvez o agora não saia exatamente como almejávamos, mas em relação ao depois teremos a chance de aplicar o que aprendemos com os erros passados.

E que bom que essa é uma vívida e grandiosa certeza! A de que a vida continua apesar de tudo. É claro que é difícil continuar, prosseguir, sobretudo quando fizemos tantos investimentos naquilo que de alguma maneira desmoronou ou deixou de existir. Tantos planos precisaram ser descontinuados, tantas promessas tiveram que ser esquecidas, tantas idealizações foram forçadas e se aproximarem da realidade não tão idealizada. É claro que tudo isso pode ser muito triste. Havia um pouco de nós, do que acreditávamos e almejávamos, em cada uma dessas coisas, e esse pouco de nós ficará preso àquele passado. Mas as feridas podem se curar. As lágrimas podem cessar. O sentimento desastroso pode passar. E poderemos oferecer outra parte de nós em outros tantos projetos, em outras tantas possibilidades, deixando para trás o que não quis nos acompanhar e encontrando novas razões pelas quais lutar.

Desistir da vida porque algo não foi para frente não é uma decisão inteligente. O tempo continua passando e nossa vida precisa ser vivida. Que vivamos não nos lamentando pelas frustrações, mas sendo gratos por tudo o que deu errado, que serviu de lição, de enriquecimento, de experiência para que o futuro seja encarado com um pouco mais de maturidade, de realismo, de firmeza e consistência. Os erros são necessários para que os acertos enfim aconteçam.

(Texto de @Amilton.Jnior)