Não existe mais a gente
Há duas verdades dolorosas que venho me recusando a encarar há um bom tempo.
Mas, a minha covardia está com os dias contados. Porque preciso encarar de frente tudo aquilo que venho empurrando com a barriga e adiando o inadiável.
A primeira verdade é que eu ainda gosto muito de você. Não, é eufemismo usar essa expressão. Eu ainda amo você, com todo o meu ser.
A segunda verdade dolorida é que eu queria muito que a gente voltasse a ser o que éramos antes. Mas não podemos.
Eu não posso e não quero.
É contraditório, eu sei. Você sempre disse que era uma pessoa muito confusa. E tem toda razão. Nem eu me entendo. Contudo, se existe uma certeza muito clara na minha vida, é a que a gente não vai voltar.
Eu sei que queria muito que a gente voltasse, porque sentimentos são difíceis de superar. E por mais que eu tente sufocar, o que sinto por você ainda pulsa muito forte aqui dentro de mim. Meu coração ainda bate junto ao teu. Minha mente insiste em reviver as memórias. Meu corpo anseia pela sua presença e tudo aqui ainda me lembra você. Você deixou marcas aqui, como a xícara com café que deixou em cima do balcão da cozinha. Mas, por mais que tudo suspire você, eu não vou correr atrás. Não vou te ligar, não vou te adicionar novamente nas redes sociais, não vou recuperar as fotos deletadas e nem colar as cartas rasgadas. Não vou cultivar falsas esperanças que só me farão molhar o travesseiro mais tarde. Nem vou dizer sim caso você me pedisse para esquecer tudo o que passou e desse uma nova chance para nós – o que a gente sabe que você jamais faria.
Não existe mais a gente.
O que eu faço com o que sinto por você? Bem, eu ainda não sei, na verdade.
O que eu sinto agora? É passageiro e eu vou ficar bem.
Uma hora todo esse sentimento irá embora do meu coração.
Porque a gente não vai voltar.
Nunca mais.
Mesmo que houvesse a oportunidade de tudo aquilo que vivemos juntos, voltasse num instante, e fosse consertado, para vivermos um lindo conto de fadas, ainda assim, eu não bancaria a tola: a minha resposta seria não. Seria tolice imaginar que uma viagem de volta ao passado (que não existe), com esperanças infundadas de que ficaríamos bem, seria a solução de tudo – e nós não iríamos ficar bem. Não existe bem-estar se estivermos juntos.
E isso independe de você, sabe? Eu não sou mais a mesma garota por quem você apaixonou e mesmo que você fosse o mais altruísta e bonzinho mocinho que já inventaram, apenas não importaria mais. Sabe por quê? Porque tudo o que aconteceu entre nós já aconteceu e, se você colocou um ponto final, eu não vou me esforçar para transformar em ponto contínuo. Se você deixou de acreditar na gente, por que eu deveria continuar acreditando?
Eu, não! Eu que não vou acorrentar o meu futuro a um passado que tem momentos bons, sim, mas que foi precedido de uma angústia desmedida que foram os últimos dias ao seu lado, até a sua partida sem uma despedida, me deixando sozinha e em pedaços. Eu lutei muito para colar os pedacinhos e me reerguer quando você me deixou, como se eu não fosse ninguém.
Você dobrou na esquina e eu continuei meu caminho reto. E não tornarei a virar na esquina que você virou. Nunca mais.
Sabe, o que os últimos acontecimentos trouxeram para mim foram bem maiores que a ruptura da nossa relação. Por mais que eu ainda esteja sofrendo e todo o meu corpo clame um abraço seu, eu sei que isso é momentâneo e vai passar. É até bom. Vai passar e serei ainda mais forte.
O meu coração é meio bobo e não mando nele. Porém, eu não vou sucumbir a saudade que sinto de você. Estou indo cada vez mais para longe de você.
Sem fraquejar, sem titubear, sem voltar atrás, sem súplicas ou vãs ilusões. Aqui só existe chance para o recomeço. E desde que você escolheu colocar distância entre nós, isso é tudo o que terá de mim.
Passe bem!