Encruzilhada V
Perdi o fervor pela escrita
Já me doem escrever essas “cruzadas”
Afinal os deuses usurparam minha musa
E eu nem sequer tive coragem de chorar
Sempre proponho aos deuses a minha condenação pelo teu bem
Mas sempre eu ei de sofrer quando tu há de chorar
Os deuses não confiam em trocas equivalentes
Esses cruéis leitores de enciclopédia me fazem corroer meu coração de ferro
Se há uma escolha para acordar deste pesadelo, me desperte a gritos
Não tenho mais canções para dedicar ao teu nome
Malditos prantos cobertos de sonhos
E quem vai ser a musa das canções?
A quem vou dedicar meus feitos de bravura?
Que venha a era das lamentações,
Fragmento-me em delírio ao desejo
Quero partir mas, sem coragem para dizer adeus
Será que ainda serei provido do sopro de deus?
Passo pelas dores de ser um artista
Escolho todo dia entre a carne e a tinta
recolho os trocados que seriam a gorjeta do garçom
e no fim chorar de fome em frente a tela
Traga de volta aquele fervor em meu seio
pois até mesmo vênus nos abandonaste
“chore em silêncio meu filho, pois este não é seu direito de luto”
Desde pequeno oprimiam meus sentimentos e hoje recusam meu silêncio
Hoje dói hoje que perdi todos aqueles ombros
até que a violência local vire manchete
A carne estrague com o apagão
E minha escrita morra com a falta da tinta
"Oh pai, porque me abandonaste?”
Desde então meu pai renunciou-me como teu filho
Tornei-me um homem solitário
Pois assim como cronos, gaia também abandonou zeus
Jamais me chame de egoísta
Você me deixaste só quando mais precisei
E essa solidão melodiosa, tornas-me bardo
Sua lágrima melancólica fez-me partir o alaúde
O conto do homem que transforma cascalho em ouro
Ha, e eu fui conhecido graças as sereias
sendo igual a todas elas… sou apenas lenda
E renunciei aquela sabedoria para trazer de volta abel
Do que valem os sentimentos pai?
Minha sabedoria é vasta neste manuscrito
E meus leitores esperam eu sair desta cadeira
Querendo ou não, essa ordem é acima da tua
Sinto-me ser feito praga
Pois tenho a maldição de partir corações
Inclusive o meu
Mas desta vez eu juro que nem levantei da cama
Esse último verso foi para lembrar que neste peito bate um coração
Tenho uma vontade de sofrer devaneios
René era um tolo se pensa e logo existe
A vida é além do pensar, é preciso sentir!
Mais uma noite sonhando acordado contigo
E sofrendo com tua partida
Que deus me condene
Mas eu desacredito em anjos
Como harpas eu dedilho
Acompanhando versos nocivos
Era tudo tão (in)tranquilo…
Mas teus olhos desviaram o brilho
Feito quixote iludo-me
No desespero eu clamo pela minha honra
"Vitória, por vitória!”
Mas por minha angústia, eu era apenas um quixote.