Filhas solteiras.
Hoje eu li uma matéria no “terra.com.br”, um portal digital de notícias, informando que filhas solteiras de militares recebem até R$ 117 mil mensais. Vou ser sincero com você, nobre leitor, este tipo de notícia me fere de morte, sinto-me deveras indignado quando tomo conhecimento desses fatos, porque são absurdos. Não é difícil perceber. E o pior, é que eu contribuo de forma vitalícia para essa iniquidade. Trata-se de uma contribuição compulsória que se estende a todos os brasileiros e estrangeiros residentes no Brasil sujeitos as leis brasileiras, inclusive eu. Você não acha isso repugnante?
Valer para todos não torna a contribuição menos infame. Pelo menos não na minha percepção.
Diz ainda a notícia que são nada menos do que 137.916 filhas solteiras de militares já mortos recebendo este tipo de benefício no País. A pensão mais antiga data de Setembro de 1930. Nessa época, nem meus pais eram nascidos. O indivíduo tem que ser muito alienado se, ao tomar conhecimento de fatos dessa natureza, ficar indiferente à notícia.
A última reforma da previdência determinou que todos os novos servidores públicos federais descontarão suas contribuições para o INSS e passarão a receber seus benefícios através do Instituto quando completarem 62 anos, se mulheres, ou 65 anos, se homens. No Regime Geral da Previdência Social hoje, o valor máximo pago a qualquer aposentado é de R$ 6.433,57. Mas não se iluda, porque os reajustes que são dados para quem ganha um salário mínimo - R$ 1.100,00 em 2021 -, não são os mesmos concedidos para quem ganha acima desse valor. E dependendo do desempenho da economia do País, o aposentado que atualmente recebe aquele valor máximo, que este ano representa 5 vezes o valor do mínimo em números absolutos, daqui a 10 anos seu benefício poderá representar apenas a metade (duas vezes e meia - 2,5) e continuará diminuindo até se igualar ao mínimo.
Muito diferente das normas que a reforma manteve para o militar das Forças Armadas, e para bombeiro e policial militar nos estados, que podem se aposentar a partir dos 50 anos e que têm direito à integralidade ("aposentadoria" com o valor da última remuneração), bem como à paridade (reajuste dos inativos simultaneamente e no mesmo percentual do militar da ativa), e com mais uma agravante, o trabalhador nesta categoria recebe promoção quando próximo de sair reformado: se cabo, vai a sargento; se sargento, vai a sub-tenente... É muito privilégio nessa política de apadrinhados.
A nossa arma para acabar com a desigualdade é o voto, mas enquanto se mantiver o DEVER de votar em detrimento do voto FACULTATIVO, nenhum candidato fará discurso sério prometendo mudança de verdade contra esse flagelo. E com isso, a imoralidade vai se perpetuando. Tem quem acredite que, se a gente preterir os velhos conhecidos na política, os que muito roubaram e nada fizeram, e só votarmos em novatos, que estes causarão a mudança necessária e a moralidade enfim transformará tudo. Como é ingênuo esse pensamento. E você, o que acha?
Na falta de mecanismo que force o candidato a se expor a valer, o eleitor fica sem a possibilidade de avaliar os vários concorrentes para, aí sim, poder escolher o mais capacitado, ou, para escolher aquele que apresenta proposta efetiva de corrigir essa desigualdade absurda, e é por isso que eu anulo o voto. Se mudarem as regras para que tenhamos jogo limpo, sem cartas marcadas, sem a obrigação de cumprir deveres - não têm que impor deveres a quem quer que seja - e os candidatos vierem me procurar pessoalmente para mostrar propostas e sugestões, numa conversa franca, olho no olho, no desejo de conquistar o meu voto, eu me comprometo a dialogar e escolher alguém para me representar. Por ora não há a menor chance. Independente disso eu tenho que gritar, fazer barulho, incomodar... São as únicas armas que tenho: a voz, o papel e a caneta. Quanto mais gente envolvida numa causa comum a todos, maior a chance de sucesso.