O Pior Naufrágio
“O pior naufrágio é não partir”. Esse é um pensamento de Amyr Klink, para o qual convido a você parar um pouco a correria do dia e refletir sobre ele. O pior naufrágio é não partir. Penso comigo que o autor da frase quis nos levar para uma viagem interior, para dentro dos nossos pensamentos, sentimentos, para tudo aquilo que existe dentro desse universo tão vasto que pode ser conquistado e explorado através de um processo de autoconhecimento. Penso que ele quis nos levar para um fato inerente a muitos de nós: o medo de ir. Medo de ir atrás do que queremos, medo de sonhar os sonhos que sonhamos, medo de amar a quem amamos, medo de receber amor de quem apenas queríamos isso. Medo de viver. Medo porque a vida é mesmo assustadora, mas deliciosamente assustadora. Para quem a vive, ela é imprevisível. Seus episódios não são monótonos. Seus capítulos são cheios de reviravoltas e revelações que jamais esperávamos que pudessem acontecer. Suas experiências são capazes de tirar o fôlego, seja num lado positivo ou num lado não tão positivo. Mas é isso o que a torna uma delícia. Essa ambiguidade de possibilidades. Esse paradoxo de sensações. O pior erro que podemos cometer é de não apreciarmos essa dádiva que nos foi dada, a oportunidade de fazermos a vida realmente valer a pena com todas as suas graciosidades e oportunidades.
Absortos nesses medos tão paralisantes, muitos de nós não partem, não vão atrás de seus sonhos, de suas conquistas, de seus amores. Ficam estagnados. Ao invés de atores protagonistas tornam-se em espectadores passivos que apenas assistem ao que é apresentado, na expectativa de que seja uma boa história ao mesmo tempo em que desfruta da insegurança de estar perdendo tempo com algo que não sairá do lugar. Percebe? Esse é o risco que corremos ao não nos permitirmos às vivências da vida. É verdade que ela é cheia de desafios, de percalços, de obstáculos que causam ferimentos ao exigirem esforços quase sobre-humanos, mas ela também é repleta de alegrias despretensiosas, de consolos reconfortantes, de momentos de verdadeira transcendência quando sentimos o divino, o sobrenatural, o inexplicável percorrer por nossas veias, acelerar o nosso coração e inundar nossa mente de uma sensação tão agradável que não pode ser expressa por palavras, apenas pelo sorriso espontâneo misturado às lágrimas de felicidade. Entende o que podemos perder ao olharmos apenas para as dificuldades que existem a todas as pessoas? E talvez sejam essas dificuldades que nos tragam as boas sensações.
É por isso que o pior naufrágio é não partir. Uma vida infeliz não é aquela na qual erros aconteceram, quedas foram inevitáveis, choros amargos foram proporcionados. Uma vida infeliz é aquela em que depois do erro ninguém aprendeu, depois da queda ninguém se levantou, depois das lágrimas ninguém as enxugou e tentou outra vez. Quem paralisa assiste a apenas um final desse filme que pode ser alterado pelas nossas próprias mãos: acompanha inerte ao naufrágio do próprio navio, quando todas as esperanças acabam, todos os motivos se tornam inexistentes e nenhum sentido para a existência é encontrado. Não tenho medo de partir e cometer alguns equívocos, tenha medo de não partir e cometer o erro fatal: o de se condenar a uma história pacata, sem novidades, que o fará vítima de seu próprio tédio.
(Texto de @Amilton.Jnior)