(im)Paciência
Paciência.
Palavra regente numa discussão onde ela não existe entre os debatedores: um não consegue esperar; outro não consegue suportar. Um pede conselhos, outro dá; mas o requerente não as apreende ou não as entende, e assim irrita aquele que as doa. Um é burro (lento, tanso, lesado), outro é insensível (incompreensível, desbocado, demasiado sincero). Neste diálogo difícil, um sofre por não saber lidar com os sentimentos, outro sofre por não saber lidar com a frustração de não resolver tal situação - por causa do primeiro.
O segundo pensa o seguinte: gasto os meus pensamentos em prol de alguém que os pede, mas não os aceita; e não é capaz de entender boa parte deles por sua limitação intelectual.
Nisso, o primeiro sugere a si mesmo: humilho-me diante de alguém que não se compaixona de minha situação.
Eis o conflito.
Por motivos ridículos, o primeiro se desespera após tantas tentativas falhas de conseguir algo que só vem com o tempo - e vontade do destino. Faltou paciência. Esta falta traz ao segundo a sua outra impaciência: a de agir como auxiliador (necessariamente de não ser compreendido por estar a um nível intelectual acima do auxiliado). Assim se perde numa arrogância vaidádica a julgar a incapacidade de outrem e cai também numa sindromática raiva por achar absurdo um alguém não ter o mínimo de cognição possível para entender o que diz; nisso passa a agir de modo apoplético - o que só agrava a situação e afasta a resolução do problema dali.
Tudo aconteceu pela falta de paciência.
A impaciência criou uma cadeia onde pôde reinar e criar uma dinastia.
De um ser, passou para outro e saiu triunfante.