O reflexo agora sou eu
Gestos pequenos são bons, quando no fim geram coisas boas, porém, a bondade é mais frágil que uma camada espessa de gelo em chapa quente. E enxergar o mal da vida dos outros é bom, mas também é ruim. Nos colocamos no lugar deles, enxergamos suas dificuldades, propomos ajuda ou ao menos um gesto que tente gerar um pesar a menos e logo nos transformamos em um pilar de apoio, uma necessidade ou alvos de garantia de ao menos algo, como uma vítima fácil.
E não é que não queiramos ajudar, mas no fim, o quanto vale tirar de si esse esforço, essa força para quando precisarmos não ter retorno? As pessoas pensam nas suas próprias necessidades e quando surge alguém que reconheça sua dificuldade, é como se ela tivesse ganho o dever de ajudar ela. Por que ela não aproveita a ajuda e tenta por vez sair dali? E se o que o outro tem a oferecer não poder ser mais daquilo que ela dá? E se a ajuda for de coração, entretanto, compreendida como para ser abusada?
As vezes temos medo de tentar ajudar porque sabemos que através da ajuda, só reunimos mais peso, que vai nos cansando cada ajuda e cada episódio decepcionante. E nem é por esperar retorno, mas o esforço do outro de demonstrar uma zona de conforto somente com o pouco que recebe, como se a vida não precisasse de mais... Mas na hora de reclamar e culpar, não tem vacilo.
Eu cansei de ser abusada assim, de me importar, de fazer por ajuda e me sentir assim, abusada, usada, chantageada... Cansei de oferecer meu tempo e meus frutos para uma terra infértil, um sujeito sem forças e sem o desejo de se esforçar, pra uma sociedade que só quer lamentar e gritar socorro até que um herói surja e ponha o mundo nas costas.
Aproveite seus esforços e suas conquistas enquanto pode, seja o seu próprio herói e seu próprio ajudante. Case, se forme, produza uma família ou apenas curta sua vida. E se acaso lhe sobrar tempo e espaço para ajudar, ajude.
Viva intensamente a sua própria vida.