Além do palmo
O mundo é cruel e a cada dia que passa nos aprofundamos mais na compreensão disso. Gostaria muito de não ser me sentir tão afundada nesse conceito, nessa característica, nessa forma de ver o mundo. Ninguém tem ideia do quão ruim é ver e não poder resolver tudo, de sentir que mesmo que faça e incentive outros a fazer é tão pequeno no resultado, semelhante a obras primas que demoram anos para serem finalizadas e basta um toque para destruir tudo.
Minhas tentativas de expressão, quero deixar claro, que não é em busca de desanimar quem quer que seja, mas tentar, desesperadamente, falar. E é a única coisa que posso fazer. Falar do que se passa na rua, em casa, nas cabeças, pois quantos e quantos exemplos temos por perto e não percebemos. Eu sei que corrigir não seria possível, mas ao menos entender que acontece e se planejar para não reproduzir já basta...
Não sabemos o quanto de mães maltratam seus filhos, de quantidade de pais ausentes, do assédio que todos sofremos, do quanto tem de pais se esforçando, de amigos enganando, sofrendo, de parentes distantes passando sufoco, de um irmão com a corda no pescoço, um filho dando o passo errado pra fugir do tormento de se sentir mal na própria casa...
Não é que o mundo seja só isso. Pelo contrário, o quanto não vemos de histórias de superação, de gente que deu a volta por cima e desejos isso pra nós. Mas aí é que está! Nosso desespero por ser o próximo premiado a poder aproveitar as riquezas da vida usurpa de nós o prazer de aproveitar a vida agora. Quantas histórias tentam nos mostrar a diferença de um pequeno gesto, como dividir seu refeição com quem passa fome, de chegar em casa cansado e dar um abraço no filho e dizer "eu te amo", dos casais exemplares que começaram com uma graça e educação, do ajudar sem esperar muito, apenas porque era o certo a se fazer. E não estou pedindo que seja aquele bom samaritano, que façamos tudo por todos, é apenas o bom senso de olhar além do que está a nossa frente, olhar o redor; pensar que a pensar de tudo que enfrentarmos e nosso desespero pro nosso amanhã melhor, também podemos fazer um pouco pro hoje de alguém um pouco melhor.
Enxergar além do nosso palmo, e sem querer a capa de herói.