Corrido

Nunca corri com grupos de corredores. Deve ser interessante. Um outro tipo de silêncio na corrida.

Corro para me encontrar. Isso acontece há anos, provavelmente, quando entendi a importância do silêncio. Correr é encontrar silêncio.

Não se trata de silêncio externo, mas interno. Ruas, estradas, campos, ginásios, todos têm ruídos, mas seja aonde for, correr é emudecer os sons. Abrir uma outra frequência com o ouvido de dentro. Escutar atentamente o sútil silêncio, como um sopro, um vácuo. Instante plenamente solitário, mesmo na multidão.

Deve ser bom correr em companhia, pois pode despertar outros tipos de alegrias, como o silêncio do outro.

Quando li o livro do Haruki Murakami sobre corrida e escrita, fiquei curiosamente interessado em correr uma maratona. Fiquei seduzido pela ideia do tempo que iria passar comigo mesmo em silêncio, em solidão. Correr 42,195 Km, imaginando a travessia entre as cidades de Atenas e Maratona, parecia-me digno de uma epopeia. Contudo, no livro ele não narra uma história a partir de uma noção de correr em grupo. Ao contrário, descreve a experiência de um corredor singular e implicado para estar dentro de si.

Por isso, a corrida sempre pareceu algo individual, mas que acontece no coletivo

Corremos em uma multidão? Corremos para ficar só? Corremos com as nossas multidões para tentar escutar o próprio silêncio?

Afinal, cada corredor carrega em si um lado solitário apreciador de um coletivo. Correr é coletivo, quer queira ou não. Correr é acertar a passada.