SAUDADE

Como é quando o grande amor da nossa vida não nos ama mais, e como superar o amor perdido? Podemos continuar a vida com o mesmo entusiasmo?

Parece que a nossa vida também tinha acabado, com o nosso interior desmoronando em meio aos ataques de pânico surgindo do nada causando o coração a acelerar e o pesar encher o peito, enquanto buscávamos encontrar o caminho de volta da dor. Era, como se tivéssemos morrido com a pessoa amada ausente. Como seria possível sentir-se saudável, feliz e amado novamente? Voltaremos a sentir-nos inteiros?

Sozinho, tomando o café da manhã, comendo, mastigando a dor. Correndo pela orla da praia misturando o suor com as lágrimas. O vazio enchendo o peito, apertando a garganta, olhando para o quiosque que antes ocupávamos, ora vazio de nós, com outros enamorados e gente feliz, sorrindo. O som das ondas quebrando num vai e vem monótono e o caminho desmotivado de volta a casa, longo e angustiante. Nada parecia real!

Num trance de olhos abertos revisitando o passado num cenário de movimento estonteante de imagens felizes e os momentos que levaram ao fim da relação, perguntamos qual milagre reverteria tão trágico desfecho. Estaríamos sonhando, e ao abrir os olhos despertaríamos para a normalidade?

Dizem que a dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional, e que podemos minimizar seu efeito ao longo do caminho, pois os danos que causamos a nós próprios na nossa mente vão além dos eventos reais.

Sabemos que o princípio da dignidade humana repousa num valor moral e espiritual inerente à pessoa. Mas, como pesar a dignidade da pessoa diante da dor do amor perdido?

Talvez, nossa dignidade, no seu sentido moral mais básico, possa ser contingente da quantidade de prazer e dor em nossa vida. Porém, mesmo um hedonista quereria promover o cálculo prazer/dor como uma teoria da dignidade humana?

Para o termo da nossa vida natural, é possível esquecermos a lembrança do amor deixado para trás, presente na saudade da alma, dizendo para onde ela quer voltar?