O QUE É POESIA
Observação:
Texto-prefácio do livro A MUSA PEDE UM SONETO - Sonetos que nasceram com o tempo, de autoria de Isaías Ramalho da Silva, publicado pela editora Chiado Books, no ano de 2019, e que teve seu lançamento no dia 07 de dezembro de 2019, em Foz do Iguaçu-PR.
A poesia é eterna;
O poeta, um sonhador;
A musa, a razão do sonho;
E a inspiração,
Um vago momento na eternidade!
Pensando-se em poesia, acredito que, para além dos limites dos versos, que a materializa naquilo que chamamos de poema, existe uma vastidão de mundo cujas fronteiras são delimitadas, não por linhas finitas e findáveis, mas pela essência da sensibilidade de cada um de nós, que transitamos na senda da vida. Por assim dizer, é possível senti-la de diversas formas e encontrá-la nos mais recônditos lugares, se, contudo, formos tocados por algo espetacular, e deixarmos que os olhos de nossa alma lancem luz sobre o belo ali existente. É nesse momento, e só nesse momento, que a poesia se manifesta a cada um de nós. Não que sua existência chegue ao fim, visto que, com a dimensão que ela possui, embora nosso olhar seja limitado, o poder da poesia passará por nós, e de nós, sensibilizando ainda outros olhares, talvez até com encantamento bem maior.
Poesia é a beleza que se manifesta nos traços da existência, aformoseando-a de maneira tal, como se fosse um verniz que brilha sedutoramente. Faz-se presente em todos os seres que respiram o fôlego de vida, e ainda nas coisas que não têm vida, mesmo que de maneira imperceptível a muitos olhares. E todos nós, cada um com sua percepção, deparamo-nos, vez por outra, agraciados com a mágica da poesia. E também, por fazermos parte desse universo infinito, muitas vezes, nos tornamos a própria poesia, sob a luz do olhar do outro, que se apercebe dos atributos notáveis existentes em nós. É esta magia a responsável por tornar a vida das pessoas mais suave e encantadora, fazendo que, cada qual, à sua maneira, se conecte com o universo à sua volta, e dele extraia o belo.
Por assim ser, ainda que seus limites sejam infinitos, uma vez que por todas as extensões do viver da humanidade se possam sentir os seus efeitos, por nossa percepção apequenada, deixamos de perceber muito da grandeza que existe em nosso entorno. Essa nossa miopia perceptiva, esse nosso passar a largo, sem permitir que os nossos sentidos toquem na essência daquilo que é belo, ou mesmo, quando não conseguimos alcançar toda a magnitude daquilo que é formoso, deixamos, por consequência, de nos deleitarmos com a poesia ali existente.
Tudo é poesia; em tudo há poesia! Precisa-se apenas de olhares voltados à essência daquilo que é belo. Mas, às vezes não estamos preparados para nos encantarmos com a magnitude de beleza que se expõe aos nossos olhos. A nossa visão míope deixa de perceber muito da grandeza daquilo que está à nossa volta, e por consequência deixamos de apreciar, de compreender, de nos deleitarmos com a formosura da vida; isso faz que não percebamos toda a poesia que existe à nossa volta. Porém, por ser magistral, ela, a poesia, sempre vai existir com a sua soberania eternal.
A poesia pode se materializar em um poema, ou em qualquer outro tipo de arte (pintura, dança, escultura, canto, etc.), basta que, do trabalho do artista, olhares sensíveis se apercebam da beleza que ali existe. O poema é uma composição poética que tenta traduzir a essência da poesia que passa pelo olhar de um observador. Mas não é toda a poesia que se torna um poema, visto que, o poema nasce a partir do trabalho que requer o esforço de alguém predisposto a construí-lo. Ele nasce de um composto de palavras organizadas de maneira tal que tenta traduzir ou, melhor, interpretar a poesia em si. Para tanto, faz-se necessário os serviços de um servo, ou, mais precisamente, de um cultor do verso. Servo esse que, de acordo com sua percepção de mundo, sua sensibilidade para com o seu entorno, sua predisposição para o sonho e sua capacidade laborativa no fazer versos, procura transformar o seu momento poético em uma arte – o poema. Imaginando-se o universo da poesia que é infinito em todas as suas dimensões, e por saber que estamos cercados por grandezas de todas as magnitudes e que uma infinidade de matizes, em todos os instantes, aguça nossos sentidos, fazendo que percebamos ricamente o que nos cerca, verifica-se um número muito pequeno daqueles que se dedicam ao labor do verso. Por esta razão, muito daquilo que é poesia, muito daquilo que é belo, deixa de ser trabalhado por esse servo, e assim, deixa de se materializar nos versos de um poema. E por construir poemas, esse serviçal recebe o nome de poeta.
Mas o poeta precisa se encantar!
Para que, sob o efeito desse encantamento, nasçam os versos que formarão o poema. É preciso existir o instante em que o olhar do poeta se depare com a poesia. É necessária uma comunicação entre o belo que existe e o olhar do cultor do verso, sem a qual a arte não se materializa. E esse encantamento se dá por intermédio de uma entidade – a Musa. Ela – a Musa –, num dado momento, instante qualquer da vida do poeta, conduze-o à percepção da essência da poesia. E vai além disso; ela o convida a trabalhar de uma maneira especial, para confeccionar o poema. Motivado pela Musa, o poeta tem o seu instante de euforia, e, a partir dai, obedecendo ele a esse chamado, começa a criar a sua arte.
Esse instante de euforia, nada mais é que um pequeno espaço de tempo o qual, em se tratando da arte de criar poema ou transmitir a poesia para os limites dos versos, podemos chamar de Inspiração. Assim sendo, quando o poeta ouve o chamado da Musa e deixa que ela o conduza pelo instante de Inspiração, nasce a obra poética.