A Cura

Hoje eu gostaria de começar o nosso momento de reflexão com uma frase de Pema Chodron: “Se alguém aparecer e atirar uma flecha no seu coração, é inútil ficar parado e gritar com a pessoa. Seria muito melhor voltar sua atenção ao fato de que há uma flecha no seu coração”. Profundo isso, não? Em muitos e diferentes contextos da nossa vida, seja numa relação familiar ou num vínculo profissional com alguém, por exemplo, acabamos sofrendo algum tipo de ataque. Somos ofendidos, maltratados, desprezados, enfim, são direcionadas a nós as mais variadas e doloridas flechas que ferem o nosso coração, causam seu sangramento, trazem emoções de solidão, de decepção e até de fúria. A reação de muitos de nós é a tão cobiçada vingança. Parece que nos dispomos a perder o precioso tempo que possuímos nessa vida tão efêmera para planejarmos uma armadilha cruel, insuperável, que faça o outro pagar na mesma moeda a dor que nos causou. Enquanto dirigimos toda a nossa força para isso, seja planejando algo na surdina ou simplesmente estourando com aquele que despertou em nós sensações nenhum pouco agradáveis, a flecha continua nos machucando, causando nosso sangramento, esvaziando nosso peito de coisas boas, minguando a beleza, o brilho e a força de nossas almas. Deveríamos nos preocupar em remover as flechas que em nós estão, caso contrário, quanto mais o tempo passar, mais fracos estaremos, mais apáticos ficaremos, menos esperança teremos na vida e nas pessoas, até sucumbirmos numa melancolia infinita e opressora. A dor que as pessoas causam em nós tem a magnitude que nós permitimos que tenha.

E de que adiantará uma vingança bem arquitetada? Ou, que efeito balsâmico há em agir com agressividade contra aquele que de alguma maneira nos feriu? Muitos daqueles que nos ferem pouco se importarão com nossos gritos, não mudará nada, eles não pedirão desculpas só porque estamos dispostos a travar uma guerra. Por outro lado, esse sim, merecendo uma grande atenção, aqueles que nos feriram podem simplesmente terem cometido um engano. As pessoas erram e está na hora de entendermos que essa possibilidade é um fato. Sabe a flecha com a qual fomos atingidos? Talvez ela doa tanto por sermos orgulhosos ao ponto de nos considerarmos perfeitos, intocáveis, dignos de todos os paparicos e de todas as bajulações. Talvez ela doa tanto por que somos infantis. E qual seria a cura para isso? Continuar agindo sob o domínio da infantilidade e pensando que o mundo inteiro é injusto conosco? Não deveríamos assumir a possibilidade de que o outro possa nos dar uma bela explicação que resolva os mal-entendidos? O problema é que nem nos dispomos a ouvir. “Como assim? Olha o que me fizeram! Eu não merecia isso!”. E assim nos vitimizamos ainda mais. É claro que em algumas vezes o que aconteceu não passa de maldade na mais pura forma. E não vai adiantar passar horas e mais horas desejando pelo mal do outro, fazer isso é cutucar a ferida que só dói em nós mesmos. O que nos resta é nos afastarmos e buscarmos pela companhia daqueles que sabem reconhecer quando erram. Essa é a grande questão. Saiba quando é o momento para realmente se decepcionar amargamente. Algumas pessoas só precisam de uma chance para reconhecerem que erraram, que foram exageradas em suas ações, que foram insensíveis em suas palavras e para que voltem atrás, busquem conosco por uma reconciliação e pela forma mais saudável possível de seguir em frente. Isso é se dispor a construir relações maduras e construtivas! Mas se permita a isso. Saiba falar. Mas também é importante saber ouvir. A convivência é como uma obra de arte desenvolvida por um brilhante artista que ao pintar um quadro ou escrever um livro não faz traços de qualquer jeito nem escreve palavras aleatórias que não fazem o menor sentido, ele toma o pincel com profundo respeito e dança com os dedos sobre um teclado derramando a sua alma para que no final sua obra cause admiração e inspiração. Não podemos conviver de qualquer jeito. É necessário saber mensurar cada sentimento que experimentamos. Mais que isso, precisamos interpretar as emoções que a nós sobrevieram. São proporcionais aos acontecimentos? Falam mais sobre mim do que sobre o outro? Vale a pena deixar anos de parceria por um evento mal compreendido? Reflita e se cure!

(Texto de @Amilton.Jnior)